5º Janela (2012) – O Leopardo
Sessão rara para a beleza de O Leopardo
Por Luiz Joaquim | 13.11.2012 (terça-feira)
Alguns filmes precisam ser revistos sempre pois, sendo obra-primas e eternas do cinema, crescem e arrepiam mais e mais a cada visionamento. E se oferecidas numa boa sala de cinema, em formato de exibição sério, como as sessões em digital DCP promovidas pelo Janela Internacional de Cinema do Recife nesta 5ª edição, a revisão torna-se imperativa. Hoje (20h), portanto, é dia de se ajoelhar no palácio São Luiz para assistir o mitológico “O Leopardo” (Il Gattopardo, 1963), de Luchino Visconti, com ninguém menos que Burt Lancaster, Cláudia Cardinale, Alain Delon e Terence Hill no elenco.
Para muitos cinéfilos do Recife, “O Leopardo”, e seus rápidos 187 minutos, era uma obra, por décadas, só possível de ver num VHS de cortes medonhos em sua dimensão original, larga de 2,20 para 1, e com textura pobre. Quando lançado em DVD há sete anos, a beleza da fotografia de Giuseppe Rotunno (o mesmo de “Amarcord”) pôde voltar a ser apreciada. A sessão de hoje, em resolução 4K (4.096 x 2.160 pixels), promete uma nova perspectiva para o glamour da mega-produção itálo-francesa da adaptada do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Vencedor absoluto da Palma de Ouro em Cannes no ano de sua produção, “O Leopardo” nos situa na Sicília do século 19 e contextualiza o chamado “Risorgimento” – que unificou a Itália – através da percepção do príncipe Salina (Lancaster). Pelo seu sobrinho, Tancredi (Delon), que noiva a burguesa Angélica (Cardinale), o príncipe vai relativizando as mudanças sociais e percebendo mais claramente sua decadência.
Visconti, que filmou o baile com a obra de Proust em mente, faz do momento mais sintomático do longa-metragem a sequência do grande baile (ao som de Verdi), com a representação de um tempo que se foi marcada pelo rosto envelhecido de Lancaster, enquanto se mira no espelho. Neste drama do aristocrata que permite a mistura de sua família a de burguêses sem nobreza, mas com muito dinheiro, constatamos um instante crucial da mudança dos tempos, quando qualquer um, desde que rico, pode entrar na roda de nobres, saudosos de outros tempos. E Visconti, de forma genial, brinca com nossos sentimentos diante de tanta beleza e tristeza.
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