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Festivais

5º Janela – Eles Voltam

O cinema da delicadeza

Por Luiz Joaquim | 16.11.2012 (sexta-feira)

Pode-se fazer um esforço, mas não vai ser fácil encontrar um contemporâneo longa-metragem brasileiro de ficção com o perfil humano que “Eles Voltam” oferece. Isto porque a produção pernambucana de Marcelo Lordello que exibe hoje às 20h no Cine São Luiz, pelo 5º Janela Internacional de Cinema do Recife, aponta para a fé no ser-humano. Mais do que as opções estéticas escolhidas pelo jovem realizador (e também por elas), “Eles Voltam” se descata pela delicadeza como coloca sua protagonista – e nós com ela – numa situação de contrastes sociais para dalí surgir uma jovem amadurecida diante do mundo.

Partindo da cultura de que o mundo é hostil e o outro é um alguém contra quem se deve desconfiar, temos pencas de filmes brasileiros que basicamente seguem a correnteza dessa lógica. Criam assim suas tramas e dilemas apenas pela constatação e perplexidade deste mundo cão. Em “Eles Voltam”, Lordello está interessado num assunto em que pouco se fala, ou seja, na esperança. Na capacidade das pessoas em aprender com o próximo. Em alcançar aquilo de bom que existe nisso e por isso deixar-se florecer.

É por esse processo que passa a pre-adolescente Cris (Maria Luiza Tavares, melhor atriz em Brasília) quando ela e o irmão mais velho, Peu (Georgio Kokkosi), são deixados pelos pais numa rodovia, no meio do nada (em bela solução estética). Depois de muita espera, Peu deixa Cris em busca de ajuda e nunca retorna. Começa então a peregrinação solitária da menina rica num mundo em que não é o seu, mas vai passar a ser.

“É um filme muito pessoal, que reflete uma maneira de ver o mundo e das coisas que minha geração preza. O próprio processo de pesquisa para locação, conhecendo as pessoas em assentamento em São Lourenço da Mata ou em Tamandaré, só veio ampliar o que acreditamos e o que aparece no filme. Não se trata de romantismo ou ingenuidade. Nos falamos do que nos interessa no outro”, comenta Lordello por telefone.

De fato, a mão firme do diretor e equipe, criou uma obra que passa longe da violência humana (plástica e psicológica), longe da depressão íntima, longe da opressão urbana ou política, “Eles Voltam” olha para a gentileza, a alegria simples, a tranqüilidade (como a sugerida por um bambuzal que “canta”), e a relativização das diferenças sociais. Pensando assim, podemos nos remeter a “Histórias que Só Existem Quando Lembradas”, de Júlia Murat – exibido no 4º Janela e depois na programação do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco -, mas ainda assim é preciso lembrar que o foco de Murat ilumina mais o amadurecimento geracional que social.

Eleito há dois meses o melhor filme no 45º Festival de Brasília (junto a “Era Uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes), “Eles Voltam” tem hoje sua premiere no Recife. “O enredo confronta constatações muito diretas com nossa cidade, e por isso vai ser especial mostrá-lo aqui; além da presença de todos os amigos, equipe e família na plateia. Sem falar na beleza do São Luiz e na sintonia do Janela com aquilo que acreditamos ser bom para o cinema”, adianta o diretor.

NA NEBLINA
Tendo estado no Recife há poucas semanas, onde ministrou um curso, o cineasta bielorruso Sergei Loznitsa exibe seu “Na Neblina” (prêmio da crítica em Cannes 2012) hoje às 15h30 no São Luiz. Com domínio absoluto da imagem, fotografada por Oleg Mutu, e da performance de seus atores, Loznitsa faz um ensaio hipnótico da cultura de seu povo através do que lhes foi deixado pela truculência da Segunda Guerra Mundial.

O enredo segue Sushenya (Vladimir Svirskiy) na fronteira da União Soviética ocupada por alemães em 1942. Com a sabotagem que causa o acidente de um trem, ele é injustamente preso com o grupo de sabotadores, mas é o único a não ser enforcado e ser libertado. Passa a ser visto, então, como traidor pelos seus párias, e Sushenya é preso pela resistência local, que quer sua morte. A partir daí, o diretor apresenta um filme forte sobre a honradez e a justiça humana, colocando tais aspectos como o que há de mais valioso ao ser-humano.

Às 22h30 tem sessão endiabrada de “Tubarão”, de Steven Spielberg

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