O Impossível
Superando a dor pela esperança
Por Luiz Joaquim | 21.12.2012 (sexta-feira)
É pelo horror do tsunami que devastou o Oceano Índico em 2004 que 2012 oferece seu melhor, digamos, filme natalino. Entenda-se por “filme natalino” aquele que lhe fara pensar a respeito no que há de mais importante na vida. O filme chama-se “O Impossível” (Lo Imposible, Esp., 2012), de Juan Antonio Bayona e, contrariando seu título, a obra só mostra milagres possíveis de acreditar.
Na verdade o enredo é baseado na história real vivida por uma família que passava as férias de fim de ano na Tailândia em 2004. Assim como o 1,8 milhão de pessoas dos 13 países afetados pela onda colossal – a qual deixou 226 mil mortos – a família de Henry (Ewan McGregor) viveu, certamente, o pior momento de sua vida. E o filme não deixa dúvidas sobre isso.
Acompanhado pela esposa Maria (Naomi Watts em interpretação comovente que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro 2013), o filho mais velho, Lucas (Tom Holland), e os menores Thomas e Simon (Samuel Joslin e Oaklee Pendergast) vivem as festividades do natal em um hotel numa praia que parece o retrato do paraíso.
O tsunami que devastaria a região no dia 26 de dezembro desafiava qualquer imaginação e os efeitos especiais de “O Impossível”, nos colocando sob a perspectiva da família no hotel, não deixa dúvida sobre isso. O susto provocado pelo impácto da imagem de uma onda violenta e gigantesca vindo em sua direção por cima de coqueiros de 20 metros de altura já é forte o suficiente para valer o filme.
Mas a equipe técnica de Bayona – que ganhou notoriedade internacional pelo seu “O Orfanato” – não pára por aí, como fez Clint Eastwood na abertura de “Além da Vida” (2010). O filme espanhol mostra todo o suposto sofrimento físico que um corpo teria sofrido enquanto submerso com o impacto do tsunami (incluindo os ruídos de um afogamento). As imagens são pertubadoras e, como se não bastasse, ainda é possível se espantar com a qualidade dos efeitos especiais que compuseram o cenário da destruição.
Tais efeito em “O Impossível” são do tipo, enquanto os vê, que lhe faz pensar: “mas como conseguiram recriar isso?”. O trabalho foi fruto de uma pesada labuta braçal, com sequencias filmadas na Tailândia e alternadas com imagens feitas num gigantesco tanque na Espanha. Foram centenas de galões de água, que por sua vez recebiam efeitos digitalizados por cima. O melhor, entretanto, está no fato de que tudo é muito sutil, o que torna ainda mais crível a catástrofe e seus efeitos.
Mais ainda. Todo esse espetáculo tenebroso é usado em função de algo que só funciona pela intensidade que a narrativa atinge, combinando esperanca com amadurecimento dos personagens; e pela excelência dos atores, com muito destaque para os garotos Hollan e Joslin.
“O Impossível” reverbera na sua cabeça como o filme catástofre mais interessante e pertinente em muitos anos e, ironicamente, é inspirado num caso real. Não são asteroides fora da rota colidindo com a Terra, nem ETs violentos punindo os humanos. Foi um fato, transmitido pela TV há oito ano, que em cinema com “C” maiúsculo faz pensar que, dependendo da circunstância, tudo o que você precisa na vida é de uma boa e forte árvore.
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