Jack Reacher: O Último Tiro
Filmão policial com protagonista nanico
Por Luiz Joaquim | 11.01.2013 (sexta-feira)
É hora de começar a voltar a prestar atenção no nome Christopher McQuarrie, o roteirista oscarizado por “Os Suspeitos”, 1995. Ele passou a ser o habitual colaborador de Tom Cruise depois que o ator ficou por conta própria, sem estúdio, na hollywoodland. É verdade que os frutos derivados da dupla não vinham entusiasmando ao longo dos último cinco anos. McQuarrie atuou como roteirista no mediano “Missão Impossível 4” (2011, mas não teve o nome créditado), e também assinou o burocrático “Operação Valquíria” (2008).
É dele também a direção e o roteiro de “Jack Reacher: O Último Tiro” (Jack Reacher, EUA, 2012) estreando hoje e com Cruise atuando no papel título, além de produzi-lo. É difícil dizer o quanto da inteligência cinematográfica que se vê em “O Último Tiro” está vinculada à liberdade que McQuarrie recebeu de Cruise para adaptar o best-seller homônimo de Lee Child, e o quanto está vinculado ao talento do, agora, diretor McQuarrie. É provavelmente a combinação das duas coisas.
Cada pequeno detalhe mostrado pelas imagens na tela deflagra na cabeça do espectador a certeza de que McQuarrie não apenas compreendeu os momentos chaves de tensão do livro como soube transformá-la em tensão cinematográfica. A afirmativa é simples de ser verificada. Basta atentar para a sequência de abertura do filme, crua e dura, assim como a uma perseguição de automóveis, que remete às boas ações policiais dos anos 1970. Tudo é mostrado sem nenhum diálogo, com a eloquência (muito boa) ficando a cargo apenas da linguagem cinematográfica.
À propósito da abertura, nela acompanhamos um atirador (Jai Courtney) com seu rifle chegar a um estacionamento e, mirando pela lente, parece procurar aleatoriamente pessoas para praticar tiro ao alvo do outro lado do rio, a 300 metros de distância. Dando seis tiros, ele tira a vida de cinco dessas pessoas. As imagens violentas, sem nenhuma explicação prévia, nos deixam com a desconfortável sensação de que não há nenhum lugar seguro nos EUA, reforçando o horror da chacina real ocorrida na escola de Newtown, em dezembro último.
Ainda sem diálogos, McQuarrie mostra em poucos minutos a investigação policial colher todas as provas chegar ao suspeito pelo crime. Ele é Barr (Joseph Sikora), um ex-militar, atirador de elite, que durante o interrogatório se declara inocente e pede para que procurem Jack Reacher (Cruise).
Reacher era também um investigador militar condecorado que serviu com Barr. Ao voltar aos EUA, decidiu viver sem endereço, sem telefone, sem e-mail, sem família. Ele é praticamente um fantasma, e é como um fantasma que aparece para o detetive (David Oyelowo) que investiga o caso de Barr junto ao promotor de justiça Rodin (Richard Jerkins). Reacher termina por investigar a razão dos assassinatos, mas ao seu modo e com a ajuda de a advogada de defesa (a bela Rosemund Pike) de Barr. Entra no seu time também Cash (Robert Duvall), o dono de um clube de tiro ao alvo.
Dizer mais sobre o enredo (e isso é só o início) é desnecessário. Além do mais, o roteiro burilado de McQuarrie tem tantas camadas e é tão bem entrelaçadas que a cada “descascada” ele só nós estimula ainda mais em saber qual a razão para os assassinatos.
No meio destas razões, uma pode soar familiar à política urbanística recifense. Mas aí é preciso ver o filme e conhecer o incomum vilão The Zec, interpretado surpreendentemente pelo cineasta alemão Werner Herzog. Aquele mesmo, que dirigiu clássicos como “O Enigma de Kaspar Hauser” (1974) e Fitizcarraldo (1982) e em declarações recentes vem anunciando que “o cinema acabou”.
Pululando contra “O Ultimo Tiro” está a trilha sonora óbvia e insistentemente inadequada de Joe Kraemer e a presença de Cruise. Como homem que tocou o projeto e colocou o dinheiro seria difícil, com sua vaidade, Cruise dar o protagonismo a um ator mais jovem e apropriado, ou a alguém com um perfil, digamos, mais viril. Pode se dizer sem muito medo que “Jack Reacher” interpretado por um Clin Eastwood 40 anos mais jovem seria candidato a um clássico dos anos 2010.
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