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Críticas

Reis e Ratos

Um jeito diferente de produzir filmes

Por Luiz Joaquim | 17.01.2013 (quinta-feira)

Em 2010, a produtora Paula Lavigne levou “O Bem Amado” para o cinema sob a direção de Guel Arraes. Com um set de filmagens tão rico do ponto de vista da ambientação nos anos 1960, Lavigne teve a ideia de reaproveitar o circo para rodar outro filme. Surgiu assim “Reis e Ratos” (Bra., 2012), de Mauro Lima (também produtor de “O Bem Amado”), longa que foi rodado em 2010 em apenas 17 dias (menos da metade do tempo habitual), e que estreia hoje nos cinemas, depois de alguns adiamentos.

A época, a atitude levantou questionamentos se esta seria uma saída para produzir filme mais baratos e práticos no Brasil (ninguém falou na qualidade). A boa administração da situação por Lavigne e Lima não só reaproveitou o cenário, figurino, equipe técnica, como também atraiu em tempo recorde um número grande estrelas do cinema nacional: Selton Mello, Rodrigo Santoro, Cauã Reymond. São nomes que reforçam o interesse do espectador brasileiros. Mas, com exceção de Santoro (aqui enfeiado e bem “encorpado” em seu personagens), os outros não passam de caricaturas – num filme caricatural (ok), mas eles num tom acima do aceitável.

É um filme experimental, de fato, e, assim sendo, merece algum crédito por isso. Ainda por cima se consideramos o roteiro audacioso, mas confuso, do próprio Lima. Confuso pelo excesso e confiança na graça. Graça que se dilui exatamente pelo seu excesso.

O enredo quer contar satiricamente os bastidores do Golpe Militar de 1964, pelo qual estariam envolvidos o agente da CIA no Brasil, Troy Somerset (Mello), o Major brasileiro Esdras (Otávio Muller), um radialista gay no interior do Rio de Janeiro Hervê (Reymond), a cantora de boate e prostituta de luxo Amélia (Rafaela Mandelli), e o vendedor de bíblia drogado Roni Rato (Santoro), entre outros, como o latifundiário Esmeraldo (Orã Figueiredo), o embaixador americano no Brasil (Hélio Ribeiro) e até o Presidente da República (Élcio Romar). Ainda no elenco, Seu Jorge, Marcelo Adnet e Paula Burlamaqui

Aqui, a trama da Inteligência americana em matar o presidente é constantemente frustrada pelo radialista Hérvê, que em meio às transmissões musicais de rádio passa por um transe e recebe uma espécie de espírito comunista. No ar, ele sempre divulga os próximos passos dos anti-comunistas confundindo a inteligência americana e, por tabela, sempre salvando a cantora Amélia, a quem ele nem conhecia.

Com diálogos disparados em velocidade supersônica, muitos deles parecem ter sido feitos sob encomendas para aquele “antigo” Selton Mello, que ficou famoso pelo humor com as falas rápidas, sempre irônicas. Em “Reis e Ratos”, Selton está sempre com o cenho franzido e blasfemando a la um americano médio faria; e também fazendo comparações esquisitas, e às vezes engraçadas, é verdade. Curioso observar como alguns atores, como Otávio Muller, parecem em cena contaminados por este jeito “Selton Mello de atuar” (que o próprio já vem deixando para trás há algum tempo).

Atenção para a presença em cena, rápida e ótima, de atores escondidos como Orã Figueiredo, Élcio Romar e Hélio Ribeiro – este dois últimos dubladores famosos (Hélio sempre fez a voz de Woody Allen) que aqui mostram seu talento como atores também. Orã, por exemplo, é o dono de uma das sequências mais autenticamente engraçadas do filme, quando tenta convencer a cantora Amélia a deixa a vida fácil. Seu timing para o humor é ótimo.

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