O Lado Bom da Vida
A dança dos instáveis
Por Luiz Joaquim | 01.02.2013 (sexta-feira)
Parece não haver meio-termo para personagens interessantes em Hollywood. À indústria cinematográfica norte-americana parece prestar atenção apenas nos vencedores ou nos perdedores. Os losers, como eles gostam de gritar. E quando um loser ganha primeiro plano num filme de alto orçamento, como “O Lado Bom da Vida” (Silver Linings Playbook, EUA, 2012), de David O Russell – em cartaz hoje – o brilho, mesmo que fútil, atinge a Acadêmia de Artes e Ciências Cinematográficas, indo parar na cerimônia do Oscar.
O romance atrapalhado que Russell conta aqui concorre ao exagero de oito estatuetas dia 24 de fevereiro. Nada demais, se as indicações de melhor filme, direção, roteiro, montagem, atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (Robert DeNiro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver) realmente validassem tais indicações. A, talvez, única experiência pertinente para o escarceu sobre o filme seja a perfomance de Bradley Cooper como Pat.
O bipolar Pat retorna de uma instituição mental após tratar-se por oito meses. Foi parar lá por conta de um trauma violento sofrido com sua esposa (Brea Bee). No retorno, em liberdade condicional, Pat volta a morar com os pais (DeNIro e Weaver) e foca sua vida em tentar reatar com a esposa. Explosivo e sem filtro social na fala (em resumo, ele é duro com as palavras), Pat conhece outra instável mental na vizinhança. Ela é Tiffany (Jennifer Lawrence, de “Inverno da Alma”), cujo viuvez a tornou uma devoradora de homens e, consequentemente, um figura mal vista no trabalho e na sociedade preconceituosa.
Ambos se ajudam em seus interesses. Ele em reconquistar a mulher. Ela em por em pratica sua terapia que se baseia na dança. O final desse encontro, não precisa pensar muito, é fácil, fácil de visualizar. O que há de diferente entre “O Lado Bom da Vida” (lema que o deprimido Pat usa para seguir adiante) e qualquer romance hollywoodiano com final feliz está apenas na rudeza com que os personagens se tratam. Mas tudo não passa de uma “maquiagem” psicológica para vermos o que sempre vemos em qualquer produção gringa mediana sobre o encontro de casais.
Enquanto isso, Russell, que ficou famoso com um filme sobre loosers (“O Vencedor”, este sim, um bom trabalho), vai repetindo o êxito de James Gray, outro cineasta que ganhou fama pelo também romance atrapalhado de “perdedores”. No seu “Amantes” (2008), Joaquim Phoenix era o falido que morava com os pais e se apaixonava por uma mulher maravilhosa. O roteiro trazia uma estrutura quase como uma cópia do clássico juvenil “O Último Americano Virgem” (1982), de Boaz Davidson.
“O Lado Bom da Vida” também não se difere muito do adolescente “Alguém Muito Especial” (1987). A diferença básica entre os dois está no sintoma dos loosers. Ao invés de pobres e estranhos no colegial, como no filme dos anos 1980 de Howard Deutche, os protagonistas de Russell, baseiam-se na instabilidade mental, e são “engraçadinhos” (aspas grandes) em sua sinceridade cortante, mas muito engessadas demais, no mal sentido em que toda a estrutura dramática nos que levar, e leva, na direção do óbvio.
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