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Críticas

As Quatro Voltas

O inevitável ciclo de todas as vidas

Por Luiz Joaquim | 11.03.2013 (segunda-feira)

Difícil imaginar uma filme como “As Quatro Voltas” (Le quattro volte, Ita, 2010), de Michelangelo Frammartino, circulando com liberdade no circuito comercial de cinemas do Brasil (ou de qualquer outro país ocidental). Isto porque o título é um convite a reflexão filosófica, essencialmente contemplativo, sobre a existência. Não apenas especificamente a humana, mas a animal, vegetal e mineral. Exibindo hoje na espaço Cine Cult (19h35) – dedicado a filmes alternativos no Cinemark (RioMar) – a produção chamou atenção em Cannes há três anos. Levou também o título de melhor filme estrangeiro em 2012 segundo a Associação de Críticos de San Diego, na Califórnia, terra do cinema pipoca.

Os destaques para “As Quatro Voltas” não são, entretanto, por malabarismos cinematográficos, mas pela decisão quase neutra e contemplativa (não há diálogos) em mostras as situações que ilustram o ciclo de nascimento e morte de quatro formas de vida. Tudo se sucede numa pequena cidade ao sul da Itália.

O primeiro personagem é o velho pastor (Giuseppe Fuda) em sua vida modesta, no repetitivo cotidiano de levar seu rebanho de cabras para o pasto. Doente, ele depende de um medicamento fornecido pela igreja do vilarejo. Num segundo momento, o filme deixa o velho para acompanhar o recém-nascido cabrito em sua curta trajetória de vida. O foco seguinte passa a ser uma frondosa árvore, a mesma que abrigou o pequeno cabrito perdido. Da floresta, a árvore vai a cidade e ganha duas funções. Por uma delas, é convertida em mineral.

Para os olhos habituados a filmes de ação, humor, piadas ou horror, “As Quatro Voltas” pode ser um tormento. Mas àqueles que conseguem deixar levar-se pelo prazer da contemplação, alcançando em algum nível uma identificação com o que se vê na tela, a produção italiana pode agradar. Seu maior crédito está nas diversas direções que essas fábula pode livremente levar o espectador.

De qualquer maneira, há ao menos um momento mais diretamente interativo. Acontece durante a encenação da procissão de uma via sacra. Num magnético plano-sequência, um vira-lata vai perturbar o fieis e provocar um acidente cômico. A sequência é um exemplo perfeito para mostrar quando um plano-sequência tem um sentido real para o enredo, e não apenas para si mesmo, como um recursos exibicionista e estéril.

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