De Coração Aberto
O pau come
Por Luiz Joaquim | 22.03.2013 (sexta-feira)
A sequência inicial de “De Coração Aberto” (À Coeur Ouvert, Fra., 2012), filme de Marion Lane em cartaz no Cine Rosa e Silva, é quase irônica. O título da produção, que remete num primeiro momento ao espírito receptivo e disponílvel de uma pessoa, é contemplado na imagem inicial mas não de forma alegórica e sim literal. A cena mostra um coração sendo aberto numa mesa cirúrgica pelos médicos Javier (Edgar Ramírez, de “Carlos: O Chacal”, de Olivier Assayas) e Mila (Juliette Binoche).
Ela é francesa, ele oriundo da América Latina. Apaixonados no sentido frenético e quase suicida do termo, o casal trabalha junto, sendo Javier uma figura chave no hospital. Uma instituição a qual ele ajudou a ergue o respeito no campo cirúrgico cardíaco. Acontece que Javier começa a afundar no álcool de forma crescente a ponto de receber uma suspensão. Ao mesmo tempo, uma gravidez acidental toma o casal de surpresa. O conflito cresce quando entendemos que o aborto é a opção clara para Mila, para Javier não.
Posta a mesa para os conflitos tempestuosos do casal – homem talentoso, explosivo e alcóolatra desempregado; mulher tocando uma gradivez indesejada por amor ao marido – Lane leva seu filme apresentando cada dia na vida dos dois como um degrau mais insuportável que o anterior a ser escalado. Enquanto Mila vai cedendo cada vez mais aos chiliques alimentados pela autopiedade do marido, Javier vai, diante de nossos olhos, transformando-se numa monstro violento e autocentrado.
Não se parece um filme francês, dentro do estereótipo que conhecemos com personagens maduros e sensíveis, contorcendo-se em questões moraes e valores éticos. Isto poderia ser bom – fugir do estereótipo – mas não o é totalmente aqui.
Ressalvando-se a atuação dos casal protagonista, em performance visceral, “De Coração Aberto” parece querer abarcar dramas para além de sua capacidade, sendo fácil de perceber quando entendemos que a passagem de um problema foi para outro sem escala. Não é permitido o seu desenvolvimento de amadurecimento natural que o tornaria mais impactanto num terreno mais sutil da percepção do espectador.
Há ainda a resolução final do filme, equivocada pelo excesso destoante de romantismo, com cenário e trilha sonora que mais distrai que encanta seu público, a quem o flime acostumou no seu decorrer com a secura do cotidiano de um cirurgião. Neste caso, da cena final, seu contraste não impacta, nem convence. Constrange.
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