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Críticas

Disparos

Violência urbana em foco

Por Luiz Joaquim | 22.03.2013 (sexta-feira)

Entra na Sessão de Arte (veja link “Roteiros”) “Disparos” (Bra., 2012), da carioca Juliana Reis que estudou cinema em Paris e hoje leciona roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro.

Livremente inspirado em casos reais de violência na Cidade Maravilhosa, “Disparos” entrelaça esses casos a partir de uma situação que envolve o fotógrafo Henrique (Gustavo Machado) e um delegado de polícia (Caco Ciocler). Com performance elogiada (e premiada) quando exibiu no Festival do Rio, em outubro, Ciocler e sua performance contida – que ajuda a destacar o humor do filme – guarda os melhores momentos da produção ao lado de Machado – um muito bom ator sem o qual Ciocler não funcionaria tão bem.

Mas é só pela primeira metade do filme, com eles em conflito na delegacia, que esta obra de Júliana vale ser vista. Tudo acontece no transcorrer de uma noite, e Henrique vai parar na delegacia pois foi assaltado por dois motoqueiros, que no mesmo instante são atropelados por um carro não identificado.

Assustado, ele foge, mas volta para resgatar o cartão fotográfico de memória perdido. Nisto, ele passa de vítima a omissor de socorro num caso de lesão corporal. Com tal argumento, Juliana tem um ótimo mote para fazer sua crítica social e exercer sua capacidade de criar tensão, indginação, graça, irritação em função da atmosfera de injustiça, descaso e humilhação pela qual passa Henrique na delegacia.

A partir desses elementos, a diretora cria uma situação digna de bons títulos como “O Anjo Exterminador” (1962), de Buñuel, ou recente Polanski, “Deus da Carnificina” (2011), ou mais diretamente a “Uma Simples Formalidade” (1994), de Tornatore. São situações que deixam o espectador inquieto em função da impossibilidade do personagem deixar um espaço específico por circunstâncias absurdas.

O problema em “Disparos” – com narrativa dividida por expressões fotográficas como “abertura”, “disparo”, “exposição”, “ampliação” – começa exatamente quando sai da delegacia e decide utilizar-se de várias situações distintas, com outros personagens secundários, para dar corpo ao universo princiapa de Henrique e do delegado.

Um volume dispensável de situações que não importam para o todo – o sexo com a gringa após ser amparada por um rastafari negro é exemplo bom – só fazem afastar o espectador do que interessa no discurso do filme, que começa a se diluir e se despede mal de seu público.

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