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Críticas

Filme Jardim Atlântico

O paraíso é aqui?

Por Luiz Joaquim | 15.03.2013 (sexta-feira)

Quem for ao cine São Luiz (Recife) a partir de hoje vai passar pela experiência como poucas que o cinema brasileiro contemporâneo vêm oferecendo. Com a estreia de “Filme Jardim Atlântico” (assim mesmo, com “filme” sendo parte do título), o realizador Jura Capela, dirigindo seu primeiro longa-metragem, resgata o espírito de um cinema livre, tão bem representado nos anos 1960, em particular por Júlio Bressane e Rogério Sganzerla (1946-2004).

Não que “Filme Jardim Atlântico” tente “fazer igual” ao que Bressane e Sganzerla fizeram, principalmente com as obras lançadas pela produtora “Belair” – rodaram sete filmes entre fevereiro e maio de 1970.

Nem pela estrutura de produção, ligeira na Belair e, com “Jardim Atlântco” tendo iniciado em 2006 e encerrado em 2012; nem pelo discurso, pode se comparar o pernambucano de hoje, com os cariocas do passado. Mantêm-se em comum a estética livre, indo por uma narrativa descompromissada na relação com o tempo linear.

Ao contrário de produções recentes espelhadas nos antigos Bressane e Sganzerla, como “Luz nas Trevas” (2012), de Helena Ignez, ou “A Balada do Provisório” (2013), de Felipe David Rodrigues – cujas matrizes estão tão enraizadas nos antigos que fazem de sua identidade algo esquálido – em “Jardim Atlântico” é possível enxergar a autenticidade na perspectiva de mundo de Jura Capela.

Essa perspectiva aparece inclusive na montagem flúida de Rodrigo Lima, na fotografia limpa de Pablo Baião (seja em 16mm, HD ou Super8) que, sob a orientação do diretor revela o quanto ele sabe exatamente onde quer ir, apresentando sua natureza humana, artística e política pelo seu filme.

No pequeno fio do enredo, temos a relação pelo presente e passado de Pierre (Fransérgio Araújo, protagonista de “Através da Janela”, 2000), que com seu ciúme doentio namora Syl (Sylvia Prado). Temos também o fotojornalista interpretado por Mariano Mattos Martins, conhecido do casal; além da garota que ele conhece no carnaval (Hermila Guedes, em breve participação).

Pelas diversas discussões entre Pierre e Syl, Jura relaciona a conflituosa relação amorosa do casal com a conflituosa relação de personalidade entre o brasileiro e sua nação. Enquanto a ideia de “Ordem e Progresso” – que está acima de tudo na bandeira nacional – combina com o ideal de relacionamento que deseja Pierre; para Syl, o “amor” (e seu poder libertário) deve ser agregado ao discurso do casal e da bandeira (do Brasi).

E as alegorias não param aí. Mostrando Pierre com a imagem de um minotauro (figura mitológica grega, representada por um homem com cabeça de touro) prestes a submergir das águas pela força de seu ciúme, Jura Capela faz de sua abertura em “Jardim Atlântico” uma das mais sedutoras do cinema brasileiro atual. Elas vêm com imagens subquaticas e misteriosas, feitas há 60 metros da supefície em águas do aquipélago de Fernando de Noronha.

O filme ainda conta como cenário o carnaval de Olinda, o Palácio Quintandinha, em Petrópolis (RJ), além da praia do Grumari e o Jardim Botânico no Rio de Janeiro.

Embalando tudo isso, uma trlha sonora envolvente e capitaneado por Puppilo, que trouxe interpretações de Céu, Ava Rocha, Junio Barreto e Mariana de Moraes entre outros. Tantas canções dão até um ar de musical a “Jardim Atlântico” – um projeto pelo qual no segundo semestre deve ganhar um CD e um livro. O filme apresenta como senão apenas a performance dos atores masculinos, aparentemente não tão à vontade diante da câmera como a orgânica Sylvia Prado. Para ver, e rever.

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