Oz: Mágico e Poderoso
Bela versão para o cinema de um clássico
Por Luiz Joaquim | 08.03.2013 (sexta-feira)
Se você lembra do filme “Mad Max” inaugural, aquele de George Miller lançado em 1979, e o viu numa sala de cinema, talvez recorde do impacto apresentado em sua abertura. Com um longo prólogo explicando as razões pela qual chegamos ao apocalipse, imagens em P&B eram projetadas num formato primitivo do cinema. A janela tinha a antiga proporção de 1,37:1 e o pequeno quadrado era ladeado pelas cortinas do palco. Eis que, de repente, tudo escurecia e as cortinas abriam de canto a canto mostrando uma nova imagem na proporção 2, 35:1, a do CinemaScope, em cores fortes e com o alto ronco do carro de Mel Gibson tomando o espaço.
Sam Raimi, diretor de “Oz: Mágico e Poderoso” (Oz The Great and Powerful, EUA, 2013), tinha 20 anos quando “Mad Max” estreou nos Estados Unidos e certamente foi um dos que se entusiasmaram com o impacto causado pelo inteligente aproveitamente técnico usado por Miller.
Três décadas depois, Raimi – também diretor dos três “Homen-Aranha” com Tobei Maguire, e do seminal “A Morte do Demônio” (1981) -, oferece a uma nova geração a mesma brincadeira técnica vista em “Mad Max”, só que ainda mais sofisticada em função dos efeitos 3D digital.
A longa abertura de “Oz” mostra, em P&B e em formato 1,37:1, como o mágico charlatão Oscar Diggs, ou apenas Oz (James Franco) toca sua vida na primeira década do seculo passado entre apresentar seus truques de ilusionismo num parque de diversões no Kansas (EUA), e paquerar com suas assistentes.
Nesse prólogo, Raimi usou a inteligência para, primeiro nos fazer acostumar com as bordas laterais pretas, e acreditarmos que todo o filme transcorrerá naquela pequena janela, para depois, com alguns poucas dicas, como as labaredas de um folgaréu, ou um passáro voando, sair dos limites das bordas, o que reforça o “susto” do 3D de maneira fantástica.
Mas o melhor vem depois quando, numa fuga num balão, Oz é sugado por um tornado e vai parar numa terra encantada. Saindo da tempestado, o quadro extende-se para 2,35:1, como em “Mad Max”, e o mundo ganha cores vibrantes e sons suaves. E aqui Raimi começa uma outra homeagem, essa mais tradicional, aos antigos desenhos da Walt Disney, como “Bambi” (1942). O filme do cervo, feito há 71 anos, já ali trazia uma técnica sugeria, numa imagem bidimensional, a tridimensionalidade da floresta.
Em “Oz”, enquanto o balão do mágico o leva pela floresta, temos a intensidade do 3D reforçada e embalada pela trilha sonora de Danny Elfman que empresta ainda mais vida à floresta, como se ela tivesse sua própria sinfonia.
Depois dessa intensa introdução, “Oz: Mágico e Poderoso” dá mais celeridade ao que pede à fábula clássica de L. Frank Baum, “O Mágico de Oz” (de 1900), do que a devaneios cinematográficos. Em outros palavras, perder o início do filme aqui é perder momentos de pura beleza e inteligência cinematográfica.
Uma vez na terra encantada que leva seu nome, Oz é confundido com um grande mágico que viria dos céus para virar rei e libertar seu povo da tirania da bruxa má. Quem o confunde é o Theodora (Mila Kunis), e é ela que o leva para o castelo na Cidade de Esmeraldas onde a irma mais velha, a bruxa Evanora (Rachel Weisz) cuida do trono a espera do novo rei.
Incitado por uma fortuna que lembra a montanha de moedas da caixa forte do Tio Patinhas, o interesseiro Oz dccide, a pedido de Evanora, por fim a bruxa Glenda (Michelle Williams) e daí trazer paz a Terra de Oz. Nessa jornada, unem-se a Oz um feioso e meio bobo macaco com asas, e uma pequenina boneca falante de porcelana.
A problemática – o que é um mérito para o filme – é que o“bom” ou o “mau” não é definido logo de cara. Deixar essa solução para o espectador no início da jornada ajuda a preservar seu interesse pelo que se passa na tela. Além disso a fábula permite também leituras mais, por assim dizer, adultas, por formas metafóricas.
Se, por exemplo, alguma militante contra a sexo masculino quiser usar o filme a seu favor, é só concentrar-se na posterior transformação da linda e doce Theodora numa bruxa enfeiada e malévola a partir da suposta traição de Oz. A situação é uma analogia interessante para ilustrar o sofrimento e toda assustadora acidez que uma mulher traída pode carregar.
Apesar de todos os acertos, o diretor Raimi parece cometer um erro na longa duração de 130 minutos em seu “Oz: Mágico e Poderoso”. Salva-se, entretanto, com um final mirabolante e espetaculoso, em que faz uma homenagem ao cinema – assim como “A Invenção de Hugo Cabret”, de Scorsese – e de quebra deixa o recado aos pequenos que a bondade é mais importante que grandeza.
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