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Críticas

Pietá

Vingança materna

Por Luiz Joaquim | 15.03.2013 (sexta-feira)

Há exato 12 meses, o cineasta sulcoreano Kim Ki-duk encerrava as filmagens de seu 18º filme, “Pietá” (Coréia do Sul, 2012). Cinco meses depois ele teria sua premiere mundial no Festival de Veneza. De lá, sairia com vencedor com o troféu Leão de Ouro de melhor filme, e hoje entra em cartaz nos cinemas do Brasil (no Recife, no Cinema da Fundação).

O nome de Kim Ki-duk não é estranho para quem já frequenta a sala do Derby há alguns anos. Lá, os habitué conheceram seus delicados “Primavera, Verão, Outuno, Inverno e… Primavera” (2003) e “Casa Vazia” (2004). Cuidado, então, para aqueles que, tendo como referência estes dois trabalho do cineasta, vá ver “Pietá” esperando algo no mesmo tom lírico, leve e suave.

Da imagem da Pietá criada por Michelangelo, com Maria abraçando seu filho morto, o filme persegue apenas a ideia do sofrimento e sacrifício materno, pois não há nada de santo no protagonista Gang-Do (Lee Jung-Jin). Ele é um cobrador de empréstimos feitos por agiotas. Seus métodos de cobrança certamente farão alguns revirarem na poltrona do cinema.

Como a maioria não possui recursos para pagar a dívida de juros altos, Gang-Do recorre aos “acidentes” que aplica em seu clientas para dali receber a cobrança a partir das indenizações de seguros. Nessa brincadeira, Kim Ki-Duk exercita sua capacidade de torturar pessoas, que envolve mãos esmagadas, pernas quebradas, corpos em queda livre.

Em meio a violência, a misteriosa Mi-Son (Jo Min-su, ótima) aparece apresentando-se como mãe de Gang-Do. Responsabiliza-se pela conduta medonha do jovem em função de tê-lo abandonado sem amor e ainda bebê. Para hoje fazê-lo acreditar no que diz, a senhora vai sofrer na carne, e no sexo, a dor de ser uma mãe de um degenerado.

Há um questionamento constante no filme, “o que é o dinheiro?”, pergunta o filho. “É o começo de tudo e também é o seu fim”, responde a mãe. Por trás das relações humanas quebradas e depois reavividas neste filme – com a vingança sendo usada como fita adesiva – há essa crítica a falta de limites para o absurdo que move uma pessoa a partir do dinheiro dentro de um contexto familiar. Ainda mais se há amor materno envolvido.

“Pietá” ainda oferece um painél interessante de uma Seul periférica. O universo pobre e impiedoso dos subúrbios da cidade vem representando por um cenário opressor e personagens desesperados, o que ajuda na empatia e envolvimento do espectador. Para além disso, Kim Ki-duk consegue ainda, no decorrer de seu filme, inverter a nossa empatia inclusive sobre o algoz e a vítima. É uma reviravolta bem articulada (o roteiro também é de Ki-duk) que poucos realizadores conseguem resolver sem escorregar na engenharia da trama e da narrativa. Veja, se tiver coragem.

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