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Críticas

Uma História de Amor e Fúria

Animação de Bolognesi é sua estreia na direção

Por Luiz Joaquim | 29.03.2013 (sexta-feira)

É inventivo, atraente, cativante, curioso e educativo o roteiro de “Uma História de Amor e Fúria” (Bra., 2012), animação que marca a estreia do roteirista Luís Bolognesi na direção de um longa-metragem. Mais lembrado pelos roteiros de “Bicho de Sete Cabeças” e outros filmes dirigidos pela esposa Laíz Bodansky, Bolognesi pôde nesta animação – até pela natureza livre que a técnica possibilita – criar roteiro em tom de fábula. Nos dando, inclusive, um cenário de ficção científica, aspecto raríssimo na cultura cinematográfica nacional. Daí caber todos os predicados listados no início deste parágrafo para o filme – uma vez que o faz de maneira competente.

Acompanhando a história de um espírito imortal (voz de Selton Mello), a animação – de técnica tradicional (para não falar simplória para os dias hoje) e o único ponto questionável aqui – nos leva primeiro ao início do século 16. Lá na na Baia da Guanabara a Vila de São Vicente está prestes a ser criada ao custo de um massacre indígena. Uma chacina iniciada a partir da refrega pelo poder entre portugueses e franceses.

Sendo sempre a parte mais fraca e vítima da história, a maior de suas dores e ver a amada Janaína (voz de Camila Pitanga) assassinada pelos invasores. Também vitimizado pela guerra, o espírito ganha forma de um pássaro e “voa” até o Maranhão do século 19 onde reaparece como Francisco dos Anjos Ferreira, o Baláio, lider da “Balaiada” que queria libertar Caxias da opressão policial. Nesse contexto vemos a dramatização da peleja pela ótica dos derrotados, e não a da história oficial do Brasil, que no mesmo episódio eleva a figura do Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro pelo êxito militar contra a rebelião.

Transitando deste período para a guerrilha urbana carioca em 1968 e depois para a insurreição dos morros em 1980 – quando sempre encontramos o espírito em busca da sua amada Janaína (Camila Pitanga)- vamos para o Rio de Janeiro em 2096, onde a água é o produto mais valioso do mundo. Aqui temos um dos momentos mais curiosos exatamente pelo aspecto da concepção visual de uma Rio de Janeiro futurista, lembrando o cenário cantando por Fausto Fawcett em 1989 com a música “Silvia Pfeiffer”.

O filme é apenas uma parte de um conjunto de produtos que querem chamar a atenção do jovem a partir do livro “Meus Heróis não Viraram Estátua”, escrito por Bolognesi com Pedro Puntoni, além da série produzida para o canal aberto TV Brasil – dirigida pelo mesmo diretor – chamado “Lutas.doc”. Todo esse conjunto quer dar voz à personagens importantes e esquecidos pela história oficial do Brasil. É um trabalho digno de elogios e merece ser visto não apenas pelos jovens pois, como diz a voz grave de Selton Mello diz no filme: “viver sem conhecer o passado, é viver na ignorância”.

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