Mama
Mamãe do mal
Por Luiz Joaquim | 05.04.2013 (sexta-feira)
O cineasta Andrés Muschietti tentou. E seu esforço não será esquecido. Mas não conseguiu. Falamos do terror “Mama” (Esp., Can., 2013), que entra hoje em cartaz. Muschietti, debutando num longa-metragem, foi o escolhido pelo produtor Guillermo Del Toro (de “Labirinto do Fauno”, 2006) para tocar esse projeto claramente dotado de cérebro quando se fala em construir tensão, medo, em função do sobrenatural. Mas, infelizmente, antes de chegar ao final, “Mama” começar a descer, como numa queda livre, para o movediço terreno do melodrama.
Abrindo de forma consistente, “Mama” nos apresenta o pai de Victória (Megan Charpenter) de três anos, e Lilly (as irmãs Maya e Sierra Dawa), de um ano. Vivendo em desespero, ele mata a mãe e foge com as crianças. Acaba indo parar numa floresta. Abriga-se num casebre abandonado e assombrado. Lá, torna-se vítima da assombração. É quando essa figura difusa e negra começa a cuidar das meninas.
Após cinco anos de busca pelo irmã e sobrinhas, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) encontra as meninas, na mesma cabana. Neste ponto, “Mama” toma uma caminho científicamente curioso, remetendo ao filme “O Garoto Selvagem” (1970), de François Truffaut. Isto porque, a partir daí – com Victoria (Morgan McGarry) aos oito anos e Lilly (Isabelle Nelisse) com seis anos – são reencontradas com habitos de bichos violentos, que se arrastam pelo chão, atacam e gruhem assustadoramente.
Junto a namorada roqueira Anabel (a versátil Jessica Chastain, de “Árvore da Vida”, “A Hora Mais Escura”), Lucas, um quadrinista, fica com a guarda das garotas e trabalha em sua reeducação. O problema é que a entidade que cuidava das meninas na cabana as acompanha até a casa de Lucas e, por ciúme dos novos pais, começa a interferir na vida da família.
Esse prólogo não é apresentado no, digamos, habitual modo acelerado dos fimes deste gênero. Muschietti sabe da importância do espectador em estabelecer uma empatia com os personagens, com seu espaço físico e suas situações. Desse modo, o espectador vai tateando nos acontecimentos sem entender as razões dessa situação.
É no ponto do roteiro em que tudo começa a ser justificado que furos começam a surgir. Questionamos naturalmente algumas sequências – “por que o psicológo das crianças vai investigar a cabana de madrugada? E sozinho?” – e elas não param de pipocar, sendo as respostas decepcionantes.
A conclusão do filme, também ganha uma dimensão quase patética, constrangedora, tornando o que era assustador em quase piedoso. Com a trilha sonora em tons bem acima do desejado. O contraste entre a apresentação e conclusão é tão grande que o filme parece ter iniciado sob a direção de Muschietti e terminado pelas mãos de seus executivos.
Muschietti, porém, deixa sua marca registrada, particularmente nas ótima sequências de sonhos, como a que Anabel vê o que se sucedeu na vida pregressa da assombração. A fotografia aqui ultracontrastante por si só já seria sedutara o suficiente. Aliada ao ritmo e enquadramento pensado pelo cineasta, só nos faz acordar ainda mais e querer entendermos o que lhe está sendo apresentado.
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