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Reportagens

Somos Tão Joves – entrevista

Imersão no rock da Legião

Por Luiz Joaquim | 25.04.2013 (quinta-feira)

Se amanhã a história de um super-heroi metálico invade centenas de cinemas no Brasil, na sexta-feira seguinte (03/05) a história de um outro heroi – esse brasileiro, míope e que ficou numa cadeira de rodas parte de sua adolescência – também não deixa por menos, indo tomar, no mínimo, 500 salas de cinema no País. O filme é “Somos Tão Jovens”, de Antônio Carlos da Fontoura, e o heroi, para milhões de fãs, é o músico Renato Russo (1960-1996). A produção é a maior investida da distribuidora Imagem Filmes, numa parceira com a Fox Films.

A produção, que cobre os anos de 1976 a 1982, período de formação musical do artista e das bandas Aborto Elétrico e Legião Urbana, é uma dos três produções em cinema que olha com carinho para o maior momento da efervência musical na Capital Federal. Unem-se a ele o documentário “Rock Brasília: Era de Ouro”, lançado por Vladimir Carvalho em 2011, e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio, com estreia marcada para 31 de maio. Este ultimo inspirado na música homônimo do lider do Legião.

“Somos tão Jovens” entretanto é o filme que deve pegar os fãs (e não-fãs) pelo coração uma vez que Fontoura priorizou aqui o lado humana do ídolo. As fragilidades, dúvidas e inquietações que vemos no Renato Russo extremamente bem caracterizado por Thiago Mendonça (o Luciano de “2 Filhos de Francisco”) deixa “Somos Tão Jovens” mais universal e aberto inclusive para o mercado estrangeiro. “No Uruguai, por exemplo, o Renato tem um fã-clube incrível”, lembrou o diretor em entrevista coletiva na tarde de terça-feira em São Paulo.

Na mesma conversa Thiago Mendonça ressaltou que o grande desafio foi exatamente conseguir um distanciamento para fazer seu Renato mais livre da ideia do ídolo. “Eu tinha que evitar o endeusamento e precisei encará-lo como o filho de Dona Carminha. O Juninho. Aquele cara agitado, daquela turma de amigos na Brasília dos anos 1970”, recorda.

Mendonça, que nasceu em 1980, era criança quando o Legião Urbana estourou nas radios. Foi atrás, então, de muito material de arquivo para pesquisar. Lembrou ainda de ver outros filmes que retratam ídolos do rock – “The Doors”, “Control” (sobre Ian Curtis, do Joy Division) e “Cazuza: O Tempo não Pára”. Mas o grande laborátorio foi mesmo o contato com a família do cantor, assim como o livro “Renato Russo: O Filho da Revolução” (Editora Agir), de Carlos Marcelo.

A atriz Laila Zaid – que vive Aninha, uma personagem ficticia, sintetizando as amigas de Renato e que o teria inspirado para a música “Ainda é cedo” – lembra por exemplo de um momento que traduz bem a interação da equipe com a família do artista. “No início, quando o Thiago ia fazer a sequência em que o Renato mancava na adolescência, ele não sabia qual era a perna manca. Perguntou a Dona Carminha, que também não lembrava. Aí ela disse ao Thiago: Senta no meu colo. O Thiago sentou e aí, revivendo a situação, ela conseguiu lembrar. Era esse o nível de emoção no set”, disse.

Umas das composições mais delicadas foi feita por Bianca Comparato (filha do roteirista Doc Comparato), como Carmen Teresa, irmã mais nova de Renato Russo. “Tive cerca de dois anos de conversas com Carmen, que hoje tem pouco mais que 40 anos. Eu a observava muito, principalmente no seu humor, e tinha de pensar como ela seria na adolescência”. O cineasta brasiliense Bruno Torre – que vive o baterista Fê Lemos, da banda Aborto Elétrico – conversou apenas por fone com o verdadeiro personagem, mas reforça a importância do livro de Carlos Marcelo no seu trabalho. “Os depoimentos que ele colheu para o livro eram ótimos norteadores para entendermos o espírito juvenil da época”.

Imagens ficcionais, canções reais
Com alguns créditos no currículo como compositor de trilha sonora para cinema, o nome do ex-Legião Urbana, Dado Villa-Lobos, seria a opção natural para encarar essa empreitada em “Somos Tão Jovens”. E foi assim que Antônio Carlos Fontoura pensou. Mas Dado recusou o convite. “Eu ia precisar rever conflitos internos, reviver aquela sonoridade e isso podia comprometer o resultado”, explicou o músico.

Mas foi de Dado a indicação de Carlos Trilha para assumir a direção musical (conhecido pelos fãs como o Quinto Legionário, pois tocou com a banda em diversas ocasiões). E um fator importante para o filme possuir a energia que carrega consigo veio de uma exigência do Trilha. “Ele queria que todos as canções que ouvimos no filme surgissem do set, cantadas e tocadas pelos atores”, relembra Fontoura.

Tanto para Dado, quanto para o baterista do Legião, Marcelo Bonfá, a ficção, curiosamente, acabou soando mais real daquilo que se vê no documentário “Rock Brasília”. “O documentário te sugere uma história. Ele te dá ferramentas para você construí-la com sua leitura a partir de diversos depoimentos. Já a ficção sintetiza todos esses depoimentos”, defende Bonfá, que também brinca ao lembrar das licensas poéticas na obra de Fontoura.

“Eu nunca toquei numa banda cuja vocalista fosse uma mulher” (referindo-se a uma sequência do filme). “Até aí tudo bem, só achei que foi demais quando vi que o nome da tal banda ficticia era Capitalistas Falidos. Aí eu pedi para tirar”, concluiu sorrindo. Em tempo: o personagem de Dado Villa-Lobos é interpretado pelo seu filho, Nicolau Villa-Lobos, hoje com 25 anos

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