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Críticas

Super Nada

Lamento sobre a arte de ser um ator

Por Luiz Joaquim | 12.04.2013 (sexta-feira)

“Super Nada” (2012), que entra em cartaz hoje no Cinema da Fundação, mostra o vigor cinematográfico de Rubens Rewald, fazendo juz a sua inteligência (pela experiência) de dramaturgo teatral paulista. O filme, antes de tudo, é um presente para seu elenco – encabeçado pelo competente Marat Descartes (de “Trabalhar Cansa”). Não por acaso, Descartes levou o Kikito de melhor ator no 40º Festival de Gramado, em agosto do ano passado.

O filme é um presente aos atores, em particular ao seu protagonista, por, primeiro, propiciar situações convincentes com a realidade na vida de um ator. Aquela figura que luta por um espaço na arte e na vida. E o melhor é que “Super Nada” não se resume a um retrato desse cotidiano. A certa altura, o muito bom roteiro de Rewald toma uma bifurcação para o inesperado e encerra com uma reflexão um tanto amarga, mas corajosa. É um excelente filme para ser visto com “Riscado”, de Gustavo Pizzi, vencedor de três Kikitos um ano antes de “Super Nada”.

No enredo temos a cidade de São Paulo como cenário. Lá vive Guto (Descartes), um ator que sonha em ser grande. Ele se prepara, se exercita, vai a todos os testes, acredita que a sua grande chance pode vir a qualquer momento. Seu ídolo e exemplo é Zeca (Jair Rodrigues), um velho comediante, já bem decadente, mas que ainda mora no coração de toda uma geração. O próprio Guto tem em Zeca um ídolo. O caminho de Guto e Zeca se cruzam e o primeiro finalmente acredita que a carreira vai deslanchar.

Uma vez que conhece por dentro a estrutura que sustenta Zeca, Guto começa a perceber que precisa relativizar o ídolo. A grosseria e falta de tato da “estrela” Zeca também irrita Guto e o leva a atos no mínimo curiosos. Nesse momento “Super Nada” convida o espectador a entrar num contexto quase fabuloso. Há uma sequência em especial – com Zeca, Guto e sua namorada na casa do jovem ator – em que o ídolo vira uma espécie de brinquedo no sofá da casa de seu fã.

Guardando proporções, temos aqui um diálogo curioso entre “Super Nada” e “Durval Disco” (2002), de Anna Muylaerte, que é também um forte filme contemporâneo situado na urbe paulistana. Em “Super Nada”, entretanto, a questão aprofunda-se num outro caminho. O da transferência de personalidade. Guto quer ser Zeca, mas quando vem o repúdio, o conflito lhe toma conta internamente. E a expressão desse conflito vem em sutilezas que só um muito bom ator consegue nos apresentar, dando conta para que percebamos, intrigados, a tudo.

Pelo real ator Descartes, então, temos um espetáculo de atuação para entender um contexto do inexperiente ator ficticio Guto. Só por esse paradoxo, “Super Nada” vale muito.

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