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Críticas

Bonitinha, Mas Ordinária

Tão bonitinho quanto ordinário

Por Luiz Joaquim | 24.05.2013 (sexta-feira)

É curioso como o muito bom ator João Miguel soa exagerado na sua performance como o ex-office boy Edgar em “Bonitinha, Mas Ordinária”. Falamos da nova versão cinematográfica para a obra de Nelson Rodrigues, desta vez levada aos cinemas pelas mãos de Moacyr Góes. Mais curioso ainda é lembrar que foi esta sua performance que deu o único prêmio ao filme quando competiu aqui, há um mês, no 17º Cine-PE. “Bonitinha, mas Ordinária”, entra em cartaz hoje nos cinemas do Brasil.

A expectativa para ver o novo filme de Moacyr Góes era tripla. Primeiro porque sabe-se que o filme foi rodado há cinco anos, e a prática no Brasil de lançar uma obra tanto tempo depois do início do projeto ter iniciado deixou de ser comum. Segundo porque Góes é o diretor de títulos tão díspares quanto questionáveis como “Trair e Coçar É só Começar” (2006), “Um Show de Verão” (2004) e “Maria: Mão do Filho de Deus” (2003), só para citar alguns.

Por último, Nelson Rodrigues nunca foi fácil de adaptar e, ainda hoje, o último “Bonitinha…” levado às telas, em 1981 por Braz Chediak, reverbera na cabeça das pessoas com a Maria Rita vivida por Lucélia Santos, e Edgar na pela de José Wilker, além de Vera Fischer como Ritinha. A versão de Chediak levou 1,9 milhão de espectadores aos cinemas.

Sobre o contraste entre o histórico de João Miguel como a de um ator preciso, mas aqui aparecendo exagerado, deve ser entendido que muito do tom de um filme, principalmente no Brasil, é dado pelo diretor. E se a combinação entre esse tom dado pelo realizador estiver firmado sobre um roteiro titubeante, o resultado pode decepcionar.

O titubeante neste “Bonitinha…” aparece quando Góes alterna o rodriguiano espírito trágico da classe média com uma aparente necessidade de servir as demandas de um público contemporâneo. Seria um espectador que precisaria literalmente ter traduzidas para si as sutilezas do texto de Nelson? Exemplo: a sequência do estupro, pensada para provocar o impacto sob o qual toda a tensão do filme se escora é apresentada aqui já nos créditos de abertura. E com uma estética de plástico, lebrando os soft-porn norte-americanos. Aqueles em que casais encenam sexo como se fosse um balé etéreo.

Exemplo dois: a frase atribuída a Otto Lara Resende – “O mineiro só é solidário no câncer” -, que fica martelando a cabeça de Edgar por todo o filme, ganha uma explicação quase didática no filme de Góes. O resultado de opções assim não pode ser satisfatório, uma vez que uma das riquezas do nosso famoso dramaturgo está exatamente na sugestão.

Um grande destaque no meio desses conflitos está na iniciante Letícia Colin – à época das filmagens com 18 anos. A atriz conseguiu, com sua insinuação de uma Lolita ora ingênua, ora devassa, segurar o difícil personagem de Maria Alice. Já a boa Leandra Leal (como a paixão de Edgar, Ritinha) está na mesma vibração acima do tom de João Miguel. Um dos destaques fica com Gracindo Jr. (como o pai de Maria Alice), tirando leite de pedra de seu personagem; sendo a presença mais marcante mesmo tendo ficado com ngela Leal. Numa aparição rápida, como a mãe de Ritinha, ngela mostra que bons atores quase não precisam de um texto para mostrar o que sabem fazer.

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