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Críticas

Faroeste Caboclo

No velho oeste do planalto central

Por Luiz Joaquim | 30.05.2013 (quinta-feira)

Uma das qualidades de “Faroeste Caboclo” (Bra., 2013), filme de René Sampaio, é que ninguém precisa conhecer nada sobre a música homônima que o originou para entrar no seu clima. Com mais de 400 filmes publicitários e três curtas-metragens rodados por ele, René Sampaio agora entra com o pé direito no time de diretores de longas-metragens no Brasil.

Para quem não sabe (alguém não sabe?), a tal música é um dos hits criados por Renato Russo cuja extensa letra é conhecida por fãs da banda Legião Urbana. À própósito, permanece em cartaz nos cinemas “Somos Tão Jovens”, filme de Antônio Carlos da Fontoura que dramatiza os primeiros passos do compositor, cantor até formar a histórica banda.

Voltando a “Faroeste Caboclo”, a música, ela provocava certo fascínio exatamente pela riqueza visual e narrativa de sua letra. Elaborada em 159 versos, foi essa riqueza que conquistou o René ainda aos 13 anos, quando ouviu a música pela primeira vez.

A ta letra contra a vida de João de Santo Cristo (no filme na pele de Fabrício Boliveira) desde a sua infância, na Bahia, à sua trajetória em Brasília. Neste percurso, João se envolve com o crime e conhece a rica Maria Lucia (Isis Valverde), além do playboy e traficante Jeremias (Felipe Abib), também apaixonado por ela.

Com a maior parte do drama situado nos anos 1980, “Faroeste…”, o filme, logicamente apresenta situações e personagens fora do que a música oferece, como o senador pai de Maria Lúcia (vivida por Marcos Paulo, 1951-2012) e o policial (Antônio Calloni) parceiro de Jeremias, ao mesmo tempo em que suprrime outras situações bem explícitas no canção.

As mudanças, entretanto, no bom trabalho do roteiro feito por Marcos Bernstein e Victor Atherino não machucam o ritmo ou a fluidez do enredo. Pelo contrário. O que René e sua equipe técnica conseguiram foram a discrição.

Esta – a discrição – talvez seja a melhor característica do filme. É assim tanto pela fluidez do roteiro, quanto pela fotografia com forte personalidade (e ainda assim suave) de Gustavo Hadba. É pela direção de arte, sem exageros, quanto pela montagem de Marcio Hashimoto, crucial para determinar o tom da delicadeza dos encontros entre Maria Lúcia e João, ou a tensão entre João e Jeremias.

No mesmo tom do equilíbrio estão os atores, que trabalharam com o preparador Sérgio Penna. No caso de Boliveira, ele conseguiu imprimir em seu João um essencial misto de ternura e terror, importante para qualquer herói clássico conquistar seu público.

E se o objetivo era construir o arquétipo do vilão, Abib também consegue nos irritar muito bem com seu Jeremias. Nesse time, o personagem mais fragilmente desenvolvido é o de Valverde, que, após sua boa apresentação, como uma menina diferente, que nos encanta fácilmente, passa a última metade do filme apenas chorando e chorando pela sina de João.

Mas, numa combinação de elegância fotográfica, de interpretação, e musical (a trilha sonora é de Philippe Seabra, da banda Plebe Rude), “Faroeste Caboclo”, o filme, deve arrebatar o espectador sem dificuldades. Fazendo-o inclusive lembrar não apenas de autênticos western-spaghetti como também de Django, o último herói de Quentin Tarantino.

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