O Dia que Durou 21 Anos
As engrenagens de um golpe
Por Luiz Joaquim | 03.05.2013 (sexta-feira)
“O Dia que Durou 21 Anos”, documentário de Camilo Tavares que finalmente entra em cartaz no Recife (em apenas uma sessão, 13h25, no UCI/Kinoplex Recife) é daqueles filmes que se pode considerar obrigatório a qualquer cidadão que realmente se interessa pelo seu Pais. Premiado em Nova Iorque e no Arizona (EUA) há poucas semanas, o filme comprova o que para muitos poderia soar há alguns anos como paranóia: o envolvimento do EUA com o golpe militar em 1964.
Com linguagem ágil, e numa articulação inteligente entre fotografias, imagens em movimento e áudio original da época, Camilo criou um documento que fala fácil, de um assunto aparentemente cansado, mas que aqui ganha novo fôlego (e revelações) de forma acessível a qualquer espectador minimamente conhecedor da recente política brasileira.
Uma das figuras cruciais nesse processo que o documentário destaca é a de Lyndon Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil. Sendo uma autoridade respeitada pelo governo de Kennedy em 1962, o que Gordon reportasse à Casa Branca era aceito como verdade. Foram suas observações sobre as movimentações de João Goulart para por em prática a partilha da terra que ativou a paranóia americana sobre a hipótese daquilo ser o embrião para o Brasil vir a ser uma nova “Cuba” na América Latina.
Uma das mais assustadoras revelações diz respeito ao projeto “Brother Sam”, em que Gordon dá a sugestão ao já presidente norte-americano Lyndon Johnson (que assumiu após o assassinato de Kennedy) de enviar navios e aviões de guerra para a costa brasileira (o que aconteceu) com o objetivo de estimular os nosso militares a depor Jango.
O doc. vai um pouco mais além e mostra como o tiro saiu pela culatra mesmo para os EUA, pois aquilo que seria uma ação temporária, de apoio a Castelo Branco (tido como de confiança por Gordon), tornou-se, como se sabe, num regimo sangrenta e longevo. O que não pegava bem de ser associado ao ideário democrático que os gringos queriam propagandear.
“O Dia…” completa-se ainda pelos pertinentes depoimentos tanto de vítimas da ditadura, como a do então deputado Plínio Arruda Sampaio, e também de militares, como Newton Cruz, ou mesmo Jarbas Passarinho, que assinou o AI-5, e diz não se eximir do processo.
Duas curiosidades: Um. O diretor Camilo é filho do jornalista Flávio Tavares. Um dos 15 presos políticos que foi trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick (cujo caso foi retratado na ficção de Bruno Barreto “O Que É Isso, Companheiro?”). Dois. “O Dia que Durou 21 Anos” já foi exibido na TV (no canal aberto TV Brasil), dividido em três episódios, em 2011.
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