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Críticas

Terapia de Risco

O falso último filme de Soderbergh

Por Luiz Joaquim | 17.05.2013 (sexta-feira)

O cineasta Steven Soderbergh chegou a anunciar no início deste ano que com “Terapia de Risco” (Side Effects, EUA, 2013) – em cartaz hoje – ele encerraria a carreira de diretor de cinema. A notícia não recebeu muito crédito e, de fato, meses depois, veio à tona que Soderbergh estaria concorrendo em Cannes (festival que inicou quarta-feira) com “Behind the Candelabra”. Cannes, à própósito, é um festival especialmente simbólico para o diretor norte-americano uma vez que foi lá, há 24 anos, que ele nasceu para o mundo com “Sexo, mentiras e videotapes” (1989).

Em sua carreira com mais de 20 filmes, o cineasta fez um trajeto interessante, alternando-se entre projetos explícitamentes comerciais – como a série “Onze Homens e Um Segredo (2001), a partir dos quais levantava fundos para fazer outros mais livres, autorais e instigantes, como “Confissões de Uma Garota de Programa” (2009). Independente das estratégias industriais por trás do falso anúncio de aponsentadoria, se “Terapia…” fosse mesmo o Canto do Cisne de Soderbergh, ele soaria bem.

Com protagonismo dividido entre Rooney Mara (otimamente destacada no “Millennium” norte-americano) e Jude Law, “Terapia…” situa-se entre os dois digamos, estilo do diretor. Com aparência de pequeno, o filme inicia discreto e focado no que parece ser o reinício de um relacionamento amoroso entre um ex-detento (Channing Tatum) e sua frágil e depressiva esposa Emily (Mara). Ela se esforça para agradar o marido quando ele volta à liberdade, mas a certa altura a moça fraqueja e tenta o suicídio.

Sem sucesso, entra em recuperação e começa a ser tratada pelo psiquiatra Banks (Law) que lhe aplica um novo medicamento em teste, com efeitos colaterais inesperados. São estes efeitos que irão dar um rumo complicado na vida de todos os envolvidos. E é a partir daí que o filme sai de seu lugar intimista para um ambiente de escala industrial. Numa analogia cinematográfica, saí de experimentações estéticas mais pessoais, para dar lugar ao ritmo de um quase thriller policial.

O saldo dessa mistura é curioso pois, se por um momento o filme te coloca muito próximo da dor da paciênte em depressão, por outro lhe faz desconfiar dela e da capacidade de ajuda que uma ciência como a psicologia e sua estrutura farmacêutia por trás dela podem oferecer.

De qualquer forma, num primeiro momento está lá a elegância de Soderbergh para filmar seus personagens por ângulos atraentes, e com muito carinho pelos seus atores. Valorizando seus personagens, é facil interagir com seus dramas. Num segundo momento, o ritmo da urgência da história tomar o lugar do que antes era mais contemplativo.

Independente do estilo dúbio num mesmo filme, há aqui uma sequência que, feita por Soderbergh, parece até uma homenagem a si mesmo. Acontece quando o Dr. Banks droga Emily, como uma hipnose química, para lhe tirar verdades. Vendo uma Rooney Mara sonolenta e sob o foco de uma videofilmadora, não há como não lembrar do tom confessional que o diretor impós a diversas mulheres sob a mesma estrutura no seu primeiro filme, “Sexo, mentiras e videotape”. Inesquecível.

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