8º CineOP (2013) – dia 1
A terra da memória
Por Luiz Joaquim | 12.06.2013 (quarta-feira)
Mesmo os mais bobos sabem (ou deveriam saber) que sem respeito e interesse pelo conhecimento histórico erros repetem-se com mais frequência e maior intensidade. Por felicidade, ao menos um evento no Brasil vem nos lembrando da importância dessa assertiva para o campo da memória e preservação do audiovisual nacional. É o CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, em Minas Gerais, que hoje abre as portas de sua 8ª edição para oficinas e, a partir de amanhã, dá partida a uma intensa programação de filmes brasileiros, além de seminários e debates, que irão contextualizar e discutir o tema “1964-1969: O Cinema Brasileiro entre o Golpe e o AI-5”. O leitor do CinemaEscrito poderá, pelo 6º ano consecutivo, acompanhar a cobertura do CineOP.
A cada ano mais consistente e abrangente, a programação 2013 – que segue até segunda-feira – reunirá também quatro especialistas internacionais para o seminário “fatos e memória”. São professores, pesquisadores, diretores e roteiristas de da Austrália (Ray Edmondson), Argentina (Débora Nakache e Mônica Acosta) e Chile ( Ignacio Agüero). O objetivo é proporcionar um intercâmbio de ideias e experiências com os profissionais brasileiros da área, todos reúnidos no CineOP.
Do ponto de vista da programação, a curadoria do crítico Cléber Eduardo para o programa “Mostra Histórica” diz que “é interessante perceber nesses filmes [selecionados] a importância dos intelectuais como personagens, politizados ou não, mas sempre impotentes e fracassados em suas missões, bem como a importância da alegoria e as menções ao regime, diretas ou indiretas”, explica.
A seleção inclui seis filmes emblemáticos desse período formados tanto por clássicos quanto por títulos de rara circulação, mas que tiveram todos, de alguma forma, problemas com a censura. É o caso do censurado “El Justiceiro” (1968), de Nelson Pereira dos Santos, e do Urso de Prata em Berlim, “Brasil Ano 2000”, do homenageado deste ano, Walter Lima Jr. Os outros quatro titulos são os alegóricos “Terra em Transe”, de Glauber Rocha (1967), “Trilogia do Terror”, de Ozualdo Candeias, Luiz Sérgio Person e José Mojica Marins (1968); e os retratos femininos “Anuska, Mulher Manequim”, de de Francisco Ramalho Jr (1968); e “Bebel, Garota Propaganda”, Maurice Capovilla (1968).
Tal produção também será discutida em duas mesas de debate; “Memória e Consciência”, quando os diretores irão falar sobre as condições de realização entre o Golpe Militar e o AI-5; e a mesa “Por Dentro dos Filmes”, com Cléber Eduardo, Ismail Xavier, Hernani Heffner e João Luiz Vieira, refletindo os diferentes estilos e ambições estéticas do período histórico em questão.
Além de Walter Lima Jr., Jurandyr Noronha também recebe homenagem no CineOP. Autor de textos em revistas históricas, como a “Cinearte” (1926-1942) e “A Scena Muda” (1921-1955), seu curta-metragem “Uma Alegria Selvagem” (1966) será exibido amanhã, mostrando arquivos de fotos e filmes, com imagens atuais, reconstituindo a vida e a época de Santos Dumont. A voz do pai da aviação gravada com som direto em 1930 também é ouvida no filme como uma expressão do próprio aviador, encontrada em suas memórias.
O CineOP ainda reserva espaço para a produção contemporânea, entre curtas e longas, inclusive exibindo títulos inéditos como o documentário “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”, de Bruno Graziano Denise Godinho e Hugo Moura, sobre o aniversário de 30 anos do primeiro filme pornô brasileiro (“Coisas Eróticas”) tendo feito quase cinco milhões de espectadores. Destaques também para ficção paulista “Irina”, sobre uma jovem que trabalha numa loja de aquários e é obcecada pela Rússia, e também o divertido “Cine Hollúdy”, do cearense Halder Gomes.
Pernambuco comparece no 8º CineOP com o inédito curta “Sentido Horário”, estreia do pródutor Ceza Maia, contando a história de amigos reunidos numa mesa de bar, e “Urânio Picuí”, de Tiago Melo e Antônio Carrilho, sobre a presença de minerais no Sertão do Siridó e como os norte-americanos exporaram a região após a Segunda Guerra. Ambos curtas exibem na sexta-feira, a partir das 23h no Cine Vila Rica.
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