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Festivais

8o CineOP (2013) – noite 4

Bebel: Garota Propaganda

Por Luiz Joaquim | 18.06.2013 (terça-feira)

OURO PRETO (MG) – Rever alguns filmes brasileiros dos politizados anos 1960, mesmo os menos badalados – leia-se fora do nicho do baiano-carioca Cinema Novo e do paulista Cinema Marginal –, só faz aumentar a idéia de que o cinema nacional contemporâneo está devendo (salvo raras exceções) em propor reflexões sobre o mundo em que vivemos. A sessão de “Bebel: Garota Propaganda”, filme rodado em 1967 por Maurice Capovilla e exibido no 8º CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto no domingo, reforçou ainda mais esta idéia.

Capovilla, 77 anos, ao apresentar a sessão no Cine Vila Rica, comentou que 45 anos atrás, ao tocar a produção, sua intenção era tentar falar da ascensão da publicidade, com a televisão cada vez mais popular, criando celebridades instantâneas e descartáveis, que são mastigadas sem piedade pela máquina do show business.

45 anos depois, e o filme de Capovilla soa bastante atual. A sua sagacidade política, soma-se a uma bela inventividade fotográfica (de Waldemar Lima, o mesmo de “Deus e O Diabo na Terra do Sol”), com bons personagens (bem atuados) e diálogos afiados. A história foi adaptada do ainda inédito romance de Ignácio de Loyla Brandão.

Em debate na tarde de sábado, Capovilla lembrou que a forma e o conteúdo no seu cinema propunha um outro questionamento sobre a crise daquela época, mas não necessariamente negava as questões propaladas pelo Cinema Novo.

No enredo, Bebel (a ótima Rossana Ghessa) é uma garota que sai de um bairro pobre de São Paulo em busca do estrelato. Seu maior sonho e trabalhar na TV. Consegue protagonizar um anúncio de sabonetes e brilha nos outdoors e revistas. Logo está na TV, mas para chegar lá precisou envolver-se amorosamente com um publicitário (John Herbert), um jornalista (Paulo José), um produtor e um milionário.

Em crise, não se entende com o namorado politizado (Geraldo D’el Rey) e não é mais reconhecida pela ainda pobre irmã mais velha (Joana Fomm). Em pouco tempo Bebel é substituída e sua beleza não mais requisitada, a não ser para programas sexuais. A ascensão e decadência dessa menina sonhadora desenhada por Capovilla neste seu primeiro filme ainda nos chega com força pela honestidade como a apresenta.

Se no início a reconhecemos ingênua e inocente, como qualquer garota suburbana encantada pelas luzes da mídia, durante o processo de decepções que agrega na escalada profissional, vamos percebendo Bebel ir endurecendo até se entregar ao cinismo para conseguir sobreviver, infeliz e sem escrúpulos. Não é um filme alegre, mas é um filme bem próximo da vida como a sabemos poder ser.

O filme de Capovilla, junto a “Anuska: Manequim e Mulher” (1968), de Francisco Ramalho Jr., e “El Justiceiro” (1967), de Nelson Pereira dos Santos – também exibidos por aqui –, talvez sejam as obras que melhor expressem por aqui uma outra ditadura (para além da militar) no final dos anos 1960. Era uma ditadura cultural velada numa época em que a mulher já havia conquistado valores libertários, mas os homens ainda não a acompanhavam.

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