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Festivais

8º CineOP (2013) – noites 2 e 3

Três décadas sob revisão

Por Luiz Joaquim | 17.06.2013 (segunda-feira)

OURO PRETO (MG) – Três pontos (ricos) bem distintos da história do cinema brasileiro foram expostos na noite de sábado durante o 8º CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, que encerra hoje. Isto por conta de uma sessão tripla com os filmes “Bonequinha de Seda” (1936), de Oduvaldo Vianna; “El Justicero” (1967), de Nelson Pereira dos Santos; e “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”, documentário co-dirigido por Bruno Graziano, Denise Godinho e Hugo Moura em 2012, cujo objeto de observação eram as circunstâncias, os efeitos e a herança deixada por “Coisas Eróticas” (1982), o primeiro filme de sexo explícito feito no Brasil.

A sessão na história cidade mineira de “Bonequinha de Seda” foi a primeira no Brasil de sua cópia restaurada com a supervisão de Hernani Heffner da Cinema do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Projetada em digital, o restauro impressiona (inclusive pelo som), dando a oportunidade de perceber melhor nuances nesta obra que foi um marco tecnológico do cinema nacional.

Criado pela mais importante produtora de então – a Cinédia, de Adhemar Gonzaga (1901-1978) -,o filme foi primeiro no Brasil a usar maquetes, gruas [espécie de guindaste onde a câmera e colocada para conseguir movimentos do alto] e o back-projection, que dá uma falsa imagem em movimento por trás dos atores, como a de uma conversa no banco de trás de um carro.

Com a sessão apresentada pela responsável pela Cinédia hoje, Dona Alice Gonzaga (filha do Adhemar), o sucesso da estréia de “Bonequinha…” foi lembrado como um marco. “Ele foi lançado no Cine Palácio, ficou um mês em cartaz e só foi tirado do cinema por pressão do cinema americano. A movimentação era tanta que nem o bonde podia circular na frente da sala”, registrou Dona Alice.

31 anos após, em 1967, o cinema brasileiro já dialogava com o cinema moderno do mundo inteiro, e o Brasil viu a estreia de “El Justicero”. Baseado no romance de João Bettencourt (“As Vidas de El Justicero”), o filme também não deixava de cutucar a sociedade e valores cariocas de então, a partir de um texto afiadíssimo que sai da boca do playboy de Copacabana El Justiceiro (Arduíno Colassanti).

Chamando o pai de general, o “El Justo” vivia de conquistar o máximo de mulheres possíveis e ajudar os amigos. Sua fama gera o interesse do jornalista Lenine que quer escrever sua biografia, mas um dia o galã se apaixona por uma garota de família rica (Adriana Prieto) que é mais avançada do que ele e o faz sofrer o diabo. Nelson Pereira lembrou em Ouro Preto que, na época, o filme foi caçado pela ditadura porque a esposa de um general implicou com a forma como o general do filme era retratado.

A chegada do sexo explícito
O terceiro filme da noite de sábado no CineOP , o documentário “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”, de Bruno Graziano, Denise Godinho e Hugo Moura, trouxe à platéia do Cine Vila Rica para uma realidade 15 anos após “El Justicero”. Em 1982, ano em que o pornográfico “Coisa Eróticas” foi lançado, a platéia já havia sido submetida por toda a década de 1970 às “pornochanchadas”,que eram encenações de comédias eróticas, tendo se tornado o maior sucesso de publico na história do cinema brasileiro.

“Coisas Eróticas”, de Raffaele Rossi (1938-2007), era entretanto algo bem diferente uma vez que mostrava cenas explícitas de casais fazendo sexo pela primeira vez num filme brasileiro. Isto numa época em que a ditadura ainda operava, mesmo que de forma mais branda. O documentário de 2012 apresentado pelo trio paulista resgata como se deu o processo de liberação do filme pela censura, impulsionada pelo relaxamento da mesma para uma exibição do também explícito “O Império dos Sentidos” (1976), de Nagisa Oshima, durante a 3ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1979.

Virando fenômeno de bilheteria, os números oficiais indicavam que “Coisas Eróticas” fez quase cinco milhões de bilhetes vendidos, mas oficiosamente acredita-se que o número passou dos 20 milhões de espectadores na época. Bastante abrangente, o doc. conversa hoje não apenas com familiares de Rossi, como também a equipe do filme, incluindo atores e atrizes, além de diretores do período, como Cláudio Cunha e Carlos Reichenbach.

Em seu bloco mais radical, “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro” escuta as impressões de atores e de um diretor de filmes de sexo explícito dos dias de hoje e recria uma cena de “Coisas Eróticas” pelos padrões estéticos dos dias atuais.

Na sexta-feira, Francisco Ramalho Jr. apresentou o seu “Anuska: Manequim e Mulher” (1968), com Francisco Cuoco interpretando um jornalista frustrado que se apaixona pela aspirante a modelo que dá título ao filme (vivida por Marília Branco).

A última sessão da noite mostrou cinco curtas-metragens. Entre eles a estreia de “Sentido Horário”, do pernambucano Cezar Maia, inspirado numa Ideia do jornalista Ivan Moraes Flho. Também atuando, Ivan troca ideias com amigos numa mesa regada à bebida e fumo. Descontraídos, assuntos polêmicos são colocados de maneira despretensiosa e humorada, mas sem profundidade, o que diminui a força do filme. Crédito para a agilidade da montagem. Foi exibido também “Urânio Picuí”, de Antônio Carrilho e Tiago Melo.

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