X

0 Comentários

Críticas

O Grande Gatsby (2013)

O pop Gatsby

Por Luiz Joaquim | 07.06.2013 (sexta-feira)

Não é à toa que a nova versão para o cinema de “O Grande Gatsby” (The Great Gatsby, EUA, 2013), a partir do clássico livro homônimo escrito por F. Scott Fitzgerald em 1925, esteja chegando aos cinemas no fim de semana prévio ao Dia dos Namorados no Brasil. É que, mesmo com a história original sobre o milionário que promove as mais excêntrica festas de Nova Iorque não se resumindo a um enredo de amor, pelas mãos do cineasta Baz Luhrmann as tintas são carregadas nesta direção.

Mas, desta vez, a demão de tinta de Luhrmann foi bem aplicada, ao contrario do que aconteceu no anterior “Austrália” (2008). Quem acompanha a carreira do diretor australiano não podia esperar nada discreto para a sua leitura de Gatsby, e nada abaixo do melodramático para o amor impossível entre o protagonista (Leonardo DiCaprio) e sua amada Daisy (Carey Mulligan).

O livro de Fitzgerald, hoje um clássico obrigatório nas escolas norte-americanas, foi escrito durante a febre da prosperidade nos EUA durante a década de 1920 e impulsionada pelo fim da Primeira Guerra. Ali o autor chama atenção também para os novos ricos que surgiram com os negócios clandestinos de bebida alcoólica, o consumo desenfreado e o afrouxamento dos valores morais na sociedade novaiorquina.

Luhrmann não desvia de questões como estas, nem poderia, mas dá apenas informações sutis a respeito para se concentrar na figura misteriosa, sedutora e determinada de Gatsy (com DiCaprio cumprindo bem o papel de galã), e seu empenho para alcançar seu maior objetivo na vida. Ter Daisy de volta.

Quem lembra de “Romeu Julieta” (1996), também com DiCaprio, e “Moulin Rouge: Amor em Vermelho” (2001), certamente recorda que a ideia de estar num filme de Luhrmann é a mesma coisa que estar numa roda-gigante ou montanha-russa. Soa irônico, à propósito, quando o marido de Daisy, Tom (Joel Edgerton) durante uma das festas olha do alto para a bagunça e solta: “Parece um parque de diversão”.

São nestas ocasiões que Lurhmann mostra o que melhor saber fazer. Contextualizar aos dias de hoje um conceito do passado, mas mantendo-o fiel aos valores de antes; transvestindo-o com roupas do contemporâneo. No caso, para as festas mirabolantes na mansão de Gatsby, temos uma mise-en-scène que lembra a agitação de boates atuais, incluindo suas batidas eletrônicas.

Importante falar que a trilha sonora de Craig Armstrong, assim como as canções incidentais produzidas por Jay-Z (algumas criadas especificamente para o filme), são um acerto aqui. Elas complementam a atmosfera do romance e não se sobrepõem ao universo esperançoso de Gatsby em reatar o amor de sua vida, interrompido cinco anos atrás.

Do ponto de vista narrativo, os comentários em off de Nick (Tobey Maguire) são os gols contra deste “O Grande Gatsby”. A história do excêntrico protagonista nos é contada em flashbacks pelas memórias de Nick – primo de Daisy e fiel amigo de Gatsby -, ajudando-o a se reaproximar da garota.

Não apenas a voz pouco inspiradora de Maguire incomoda – nos dando a sensação de que a intensidade da narração esta sendo dada com a profundidade de uma leitura feita pelo homem-aranha – como sua aparência boba também parece destoar de toda a grandiloqüência do filme.

Se por um lado Maguire parece empurrar para baixo o nível das performances, Mulligan o eleva. A inglesinha indicada ao Oscar por “Educação” em 2009 deu consistência a sua Daisy, que em sua origem é nada mais que um bonequinha. Dona de, certamente, o rosto mais enternecedor da Hollywood de hoje, Mulligan nem parece ter trabalho para nos fazer entender o que alimenta as eternas esperanças do herói apaixonado Gatsby.

————————
THE GREAT GATSBY (1926)
Rodado por Herbert Brenon um ano após a primeira publicação do livro, o filme trazia Warner Baxter no papel principal e Lois Wilson como sua amada. A obra foi levada ao cinema em função do sucesso da peça, que ficou em cartaz por um ano em Nova Iorque.

——————————–
ATÈ O CÉU TEM LIMITES (1949)
Mais de 20 anos depois, o romance era um sucesso absoluto e Hollywood revê sua dramaturgia. Elliott Nugente dirige e Alan Ladd é Gatsby, com Betty Fiel aparecendo como Daisy. Ladd foi por muito tempo considerado o Gatsby perfeito, por retratar pro nuances a dubiedade do herói, que escondia sua tragédia pessoal para re-encontrar o amor de sua vida.

—————————–
O GRANDE GATSBY (1974)
Ainda hoje o mais conhecido dos “Gatsby” foi encarnado por Robert Redford – até pela proximidade temporal da produção dirigida por Jack Clayton, há 39 anos. Com roteiro adaptado por Francis Ford Coppola, a figura etérea de Daisy foi vista na pele de Mia Farrow. Venceu o Oscar de melhor figurino e trilha sonora.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade