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Críticas

Ferrolho

Filme mostra a urbana Caruaru

Por Luiz Joaquim | 16.07.2013 (terça-feira)

Hoje é um dia para a comunidade do cinema contemporâneo pernambucano atentar para o fato de que a produção do Estado não se restringe ao que é feito apenas na Capital. Na verdade, não é com o filme “Ferrolho”, longa-metragem feito por Taciano Valério em Caruaru, que se inaugura a realização audiovisual no Agreste Pernambucano; mas é com ele que talvez vejamos uma mais universal obra considerando sua origem geográfica. “Ferrolho” tem sua primeira exibição por aqui hoje, às 20h30, na mostra de 15 anos do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

Não à toa, o filme de Taciano foi selecionado para o programa Aurora, da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), em janeiro último; assim como “Onde Borges Tudo Vê”, outro longa rodado pelo cineasta ainda na sua terra natal, a Paraíba, antes de se radicar em Caruaru, onde gerou “Ferrolho”. O filme apresenta uma Caruaru urbana, com questões de uma cidade grande, e não se concentra nos termos da cultura popular local, embora não a dispense, como é o caso da opção em registrar o trabalho da família protagonista com o barro como uma opção para ajudar nas despesas de casa.

Salienta-se, entretanto, o aspecto urbano, dialogando com as coisas próprias da capital do Agreste mas, ao mesmo tempo, dando seu recado de forma compreensível do ponto de vista do contexto humano, do indivíduo, logo universal. Essa relação do personagem com a cidade, evoca clássicos do chamado Cinema Marginal, como a lente grande angular no fusca – resgatando a abertura de “Bang Bang” (1971), de Andrea Tonacci. A referência mais explícita, entretanto, é com “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla, quando temos a participação das mídias fazendo parte do discurso do filme, como o reportagem da TV que põe o povo para comentar sobre o bandido Ferrolho (o muito bom Paulo Philippe).

Ferrolho, à propósito, é o nome do bandido que aterroriza Caruaru. Ele entra na casa das pessoas e deixa sua “assinatura” em lugares inusitados. Em sua identidade pública, o bandido é apenas um ferrenho torcedor do Central Sport Clube. No filme, Taciano não deixa esconder também uma simpatia pelo cinema de Cláudio Assis, fazendo uma divertida homenagem ao cineasta. No enredo, o torna o mais importante jogador da Patativa do Agreste – há também outros cineastas na escalação final do time, como Bertrand Lira, Marcos Villar, Ely, Torquato, todos realizadores paraibanos.

Intercalando o enredo fictício, há a inserção de depoimentos reais de pessoas que trabalham com o barro. Funciona como um reforço para a importância do assunto como tradição cultural, mas surge como um extra dramático que acaba por quebrar o ritmo da já bem dramatizada situação ficcionada do bandido.

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