41° Gramado (2013) – noite 2
Wagner Moura estreia em Gramado
Por Luiz Joaquim | 12.08.2013 (segunda-feira)
GRAMADO (RS) – O ator Wagner Moura chegou no sábado em Gramado vindo direto de Los Angeles (EUA), onde fora lançar seu mais novo trabalho, a ficção científica “Elysium”, dirigido pelo diretor sul-africano Neill Blomkamp, cujo elenco inclui Matt Damon e Jodie Foster.
O eterno “Capitão Nascimento” veio para receber o troféu Cidade de Gramado pela sua carreira. Ao subir ao palco para agradecer, lembrou que era a primeira vez que vinha à cidade. “Já faço cinema há 16 anos e sempre quis conhecer este festival, cujo tapete vermelho não deve servir apenas para o desfile de artistas, mas também para debater temas diversos”, destacou.
Conhecido pelo engajamento social, o ator lembrou que o dia seguinte [ontem], seria o dia dos pais. “Perdi meu pai há pouco tempo, mas eu sei como ele morreu. Amanhã [ontem], seis filhos na Rocinha, no Rio de Janeiro, vão passar o dia sem saber como seu pai, o Amarildo, morreu”, falou em menção ao pedreiro desaparecido em julho quando levado a UPP de sua favela.
Antes, em entrevista à imprensa, Moura disse que sua carreira internacional é fruto de uma curiosidade natural. O convite para estar em “Elysium” veio de Blomkamp, um fã de “Tropa de Elite”. Disse ainda que isso não significa que irá preterir o cinema nacional.
À propósito, o ator disse que um dos filmes que mais o impressiona é “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho. “Se ele me chamasse, eu topava fazer qualquer trabalho”. O cineasta pernambucano, em Gramado como júri, retrucou que “o convidaria para um filme, mas teria de escrever um roteiro só para ele. Para aproveitar seu talento”.
PS – Wagner viverá Federico Felline no cinema. O ator disse que o projeto está congelado uma vez que seu idealizador, Henry Bromell faleceu há cinco meses. “Estão em busca de um novo diretor”, disse. A história fala das 24 horas em que Felline ficou desaparecido nos EUA, um dia antes da cerimônia do Oscar por “Noites de Cabíria”, em 1958.
Sutilezas e exageros marcaram os longas do sábado
A primeira noite competitiva, no sábado, do 41º Festival de Cinema de Gramado, mostrou que o cinema brasileiro – ao menos na seleção do dia, com o filme “Éden”, de Bruno Safadi – goleou o representante latino, o argentino “Puerto de Hierro: El Exilio de Peron”, de Dieguillo Fernández e Víctor Laplace.
Enquanto Safadi construiu uma ambiência claustrofóbica e única para o drama da carioca Karine (Leandra Leal), que aos 30 anos, após perder o marido assassinado, tem de encarar os últimos momentos da gravidez; Fernandéz e Laplace contaram os 18 anos de exilio do presidente Péron (1895-1974), a maior parte em Madrid, como se fosse um telefilme institucional para o governo argentino.
Professoral ao extremo, em “Puerta de Hierro” temos uma trilha-sonora excessiva e adocicada, diálogos empostados e a imagem de Peron impecável, como um senhor de 77 anos habilidoso no boxe, esgrima e ioga, além de conquistador e, claro, inconformado com o exílio. Salva-se a performance do próprio Laplace com Péron, que ocupa 99% de todos os planos do filme.
Já “Éden” é um filme a ser degustado com calma. Logo na abertura, Safadi nos dá um plano forte, com Karine deitada numa piscina vazia. Sua solidão já está posta e nos resta acompanha-la em seu deserto.
À deriva em seu desamparo, ela é levada pelo irmão (Júlio Andrade) a igreja evangélica do Éden, na qual o pastor Naldo (João Miguel) aplica sua pregação quase como uma imposição. Karine se deixa levar, mas em termos.
Com trilha sonora musical assustadora (no bom sentido) feita por Guilherme Vaz, “Éden” assemelha-se, numa momento ou outro, a um filme de horror graças ao teor da tensão e compressão vivida por Karina. A iminência do nascimento em meio a tanto fanatismo religioso até faz lembrar “O Bebê de Rosemary”, de Polanski.
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