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Críticas

Cine Holliúdy

Fenômeno de bilheteria cearense chega ao Recife

Por Luiz Joaquim | 29.08.2013 (quinta-feira)

Há uma jóia rara em cartaz a partir de amanhã (30/08) nos cinemas do Recife. Algumas de suas qualidades são a autenticidade, a coragem e o bom humor. Mas não apenas isso, uma vez que para um bom filme se sustentar não bastam tais predicados.

Aqui é imprescindível também que seu realizador possua intimidade com os meandros da linguagem cinematográfica, além de uma profunda capacidade de conhecer sua cultura, além de reconhecer-se nela. Falamos de “Cine Holliúdy” (Bra., 2012), filme fenômeno do cearense Halder Gomes que entra em cartaz a partir de amanhã (30/08) em todo o Norte e Nordeste.

A respeito de ser reconhecido como um fenômeno é importante registrar que “Cine Holliúdy” quebrou diversos recordes no mercado de exibição do Ceará, onde estreou 9 de agosto último (leia entrevista abaixo).

Por conta disso, é fácil que alguém se arvore a justificar a linguagem e o humor peculiar usado por Halder no filme – que tem inclusive legendas em português para facilitar a compreensão do cearensês falado em cena – como os únicos responsáveis pela febre em que o filme se tornou na sua terra. Seria uma erro, ou ao menos uma imprecisão.

De fato, a história que se passa nos anos 1970 do heroi Francisgleydisson (Edmilson Filho, ótimo) ao lado do filho e da fiel esposa Graciosa (Miriam Freeland) ganha contornos divertidamente insólitos por ser apresentada quase que por meio de um dialeto para uma parte do espectador brasileiro.

Mas o roteiro simples (não simplório), direto, objetivo que foi pensado por Halder para contar essa história – que poderia inclusive ter sido real – é também um trunfo em si para conquistar o espectador. Assim como o é sua capacidade de criar e dirigir personagens – apoiado por bons atores. São personagens que formam uma “fauna” de figuras exageradas pelo que possuem de mais cômico da cultura interiorana nordestina.

Estão lá o bêbado (o humorista Zé Modesto), o chato, o prefeito, a oposição política, o padre, o afeminado, os moleques, a polícia, a namoradeira, o galã e o cego ignorante (vivido pelo cantor Falcão, à vontade), entre tantos outros.

Todos servindo de moldura engraçada para nos ajudar a acompanhar a ideia de fixa de Francisgleydisson em abrir uma sala de cinema e exibir os filmes que ama – os de karatê – na pequena cidade de Pacatuba. Numa época em que a tevê começava a invadir os lares dos nordestinos.

“Cine Holliúdy”, nesta data em que estreia em novas praças, passa por um momento fundamental para entendermos o quão largo, ou estreito, é esta realização de Halder. O quanto ela ainda cabe no Brasil de hoje.

É uma realização onde o cineasta recriou um mundo ingênuo, o de Francisgleydisson, mas por isso mesmo carregado de esperança e alegria. Um mundo pelo qual o cinema brasileiro viveu glórias no passado com a trupe de “Os Trapalhões” – cujo lider era também um cearense -, mas o perdeu de visto há décadas. E agora volta reavivado pela sagacidade e inteligênia de Halder Gomes.

Blockbuster made in Ceará
“O filme que jogou água no “Círculo de Fogo”, que deixou os “Smurfs” encardidos e que enferrujou o “Homem de Aço””. Foi assim, sorridente e satisfeito, que o cineasta cearense Halder Gomes apresentou seu “Cine Holliúdy” no Recife em sessão para convidados na terça-feira (27/08). E ele não estava exagerando.

A produção realizada no Ceará com apenas R$ 1 milhão obtido no edital do Baixo Orçamento do Governo Federal (no mesmo ano que premiou “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho) vem deixando o mercado nacional com o queixo caído. Com um lançamento estratégico gerenciado pela distribuidora Downtown Filmes, “Holliúdy” estreou apenas no Ceará no dia 9 de agosto e de lá até agora vem quebrando todos os recordes de ocupação nas salas locais (veja os números logo abaixo).

“Esse fenômeno provocou um pavor nos filmes estrangeiros que estreavam ao lado de nossa produção. Quem entrava em cartaz junto conosco era massacrado, fazendo bilheteria baixa. Na verdade a gente deu uma forcinha para os gringos pois quem ia ver “Holliúdy” e não conseguia entrar, acabava comprando ingresso para ver outro filme em cartaz só pra não perder a viagem”, destaca Halder.

Os próprios exibidores se dizem impressionados com tudo isso. Não é para menos, uma vez que, lembra Halder, “pela primeira vez tivemos lá em Fortaleza todas as sessões de um final de semana esgotadas pela compra antecipada de ingressos”. Tanta procura fez a administração dos shoppings cearenses criar uma nova metodologia para seus clientes, colocando placas já no estacionamento com a informação “Ingressos esgotados para Cine Holliúdy”.

Os recordes do filme, que inclui médias de êxito que ultrapassam sucessos com “Titanic” e “Tropa de Elite 2”, produzem também um bom efeito colateral também na economia do lugares onde é exibido. “Um empresário da praça de alimentaçao de um shopping veio pessoalmente me agradecer pelo filme dizendo que seu lucro em agosto foi tão grande quanto se fosse o do mês do natal, o mais expressivo durante o ano”, lembra.

O filme, que a partir de amanhã chega a 56 salas em todo o Nordeste e Norte, já vinha com o marketing sendo trabalho por Halder individualmente, Ele fez uma campanha vitoriosa já com o trailer na internet, com 200 mil visitações. “Antes da estreia, achávamos que teríamos 100 mil espectdores no Brasil inteiro. Agora esperamos os 250 mil”.

A estratégia do lançamento invertido, primeiro entrando em cartaz no Ceará para depois descer para o Sudeste, também é uma prova de inteligência e coragem. “Estamos dando um exemplo com o legado que o filme deixa. O de que o Nordeste pode direcionar seu talento para uma platéia ávida que quer ver heróis como o Francisgleidysson nas telas”, reflete o diretor. “O cinema regional tem força para ser competitivo. Temos apenas que fazer um provocação ao mercado, mostrar que há demanda. Vejo tudo o que está acontecendo como algo encorajador para um cinema nacional diferente. Que precisa se enxergar com mais cuidado”, conclui.

EXEMPLOS – “Vi famílias com três gerações, do avô ao neto, indo ao cinema e rindo juntos. Soube também de um grupo de caseiros no interior do Estado que alugou uma van para ir ver o filme. Detalhe: nenhum deles tinha ido ao cinema na vida”, conta Halder Gomes.

SUCESSO – Os atores do filme estão sendo requisitados pela agências publicitárias do Ceará para participar de campanha no Estado, encarnando os personagens que viveram em “Cine Holliúdy”.

PROJETOS – Halder Gomes já tem dois novos projetos amarrados com a Dowtnown Filmes. Um deles, “Kickboxer do Sertão”, deve contar a história de desafios entre lutadores que chegam ao interior, provocando situações engraçados pelo tipo dos personagens. O outro projeto ainda é apenas um argumento em desenvolvimento.

Os número de “Cine Holliúdy”

2.300
espectadores foi a média por sala no final de semana de estreia (9/08) em dez salas no Ceará

04
vezes acima da média de um arrasa-quarteirão americano foi o resultado alcançado pelo filme nas bilheterias do Ceará.

23.000
espectadores foi a soma dos pagantes no 1º final de semana.

31.000
foram os espectadores no 2º final de semana. Número maior que o da estreia. Sendo o 3º fim de semana também melhor que o da estreia, com 26 mil pagantes.

150 mil
era o total de espectadores até a semana apenas no Ceará. Número que equivale a cerca de 10% da população de Fortaleza.

60%
de toda a bilheteria em um dia de todos os cinemas do Ceará foi alcançando em apenas um dia por “Cine Holliúdy”

10
vezes mais que o filme americano “Círculo de Fogo” foi a performance nas bilheterias na sua estreia.

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