Flores Raras (crítica)
Romance frutífero e fatal
Por Luiz Joaquim | 16.08.2013 (sexta-feira)
Há dois tipos de curiosidade por parte do espectador popular a cerca do filme “Flores Raras” (Bra., 2013), de Bruno Barreto, que entra hoje em cartaz. Uma diz respeito ao acesso a mais informações sobre a figura pouco conhecida que foi Lota de Macedo Soares (1910-1967) – aqui vivida por Glória Pires. E a outra diz respeito a ver como se sai a atriz global vivendo um romance homossexual no Brasil dos anos 1950/1960.
Essa mesma última curiosidade também moveu Pires a aceitar a empreitada de interpretar essa figura forte e polêmica que foi Lote; sendo respeitada, inclusive, por Carlos Lacerda, o temido governador da Guanabara de então, de quem ela era amiga.
Adaptado do romance “Flores Rara e Banalíssimas”, de Carmen Lúcia de Oliveira, o filme introduz ainda o período em que a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (a precisa Miranda Otto) veio ao Brasil para descansar. Ela conhece Lote e se apaixonada pela força da arquiteta brasileira que idealizou o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.
“Flores Raras”, o filme, deixa claro como o relacionamento conturbado e amoroso das duas foi fundamental para que ambas mulheres crescessem como criadores sensíveis a frente de seu tempo. O enredo reforça que o amor entre Lote e Bishop, vivido num cenário deslumbrante em Petrópolis, foi também determinante para o nascimento e a qualidade do livro “Norte e Sul”, pelo qual ela ganhou o prêmio Pulitzer de literatura.
Com esmero na direção de arte, aspecto delicado no caso de uma produção brasileira – esta custou cerca de R$ 13 milhões -, a obra acerta nos aspectos que nos transferem para o universo estético e social do Brasil de 60 anos atrás.
Curioso observar como Bruno Barreto, que escreveu o roteiro aqui com Matthew Chapman (marido da atriz Denise Dumont), transfere seu olhar de quem morou 20 anos nos Estados Unidos para os personagens gringos desenvolvidos em seus trabalhos. Foi assim também em “O que É Isso, Companheiro?” (1997) e “Bossa Nova” (2000).
No filme, Bishop não deixa de fazer suas observações de indignação sobre a cultura brasileira por ocasião do 1º de abril de 1964. “Quando Kennedy foi assassinado o país inteiro ficou de luto. No Brasil um golpe militar acontece e as pessoas jogam futebol na praia”, indigna-se por meio um diálogo que não é original do livro.
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