Frances Ha
Virando gente grande
Por Luiz Joaquim | 23.08.2013 (sexta-feira)
Está achando a vida dura? Vá conhecer Frances Ha, a protagonista do filme que leva seu nome no título da produção (Frances Ha, EUA, 2013), em cartaz no Cinema da Fundação. Não que a vida de Frances (vivida pela ótima atriz e roteirista Greta Gerwig) seja a mais sacrificada de todas e que, por consequência, fará o espectador por comparação se sentir mais aliviado. O que levará o público a querer sair celebrando a vida ao final da sessão está na personalidade desta jovem americana e na forma como ela encara os desafios que encontra.
Dirigido por Noah Baumbach (de “A Lula e A Baleia”), “Frances Ha” apresenta sua principal personagem com vigor e alegria na urgência da vida, mas sem esquecer sua gravidade. Tudo nos moldes do melhores filmes da Nouvelle vague francesa, ali nos anos 1960.
A referência mais direta é a saga criada por François Truffaut para o apaixonante personagem Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud, ator que é inclusive citado em “Frances Ha”). E se mesmo com a fotografia em preto e branco e a montagem frenética alguém duvida disso, há a referência explícita com a inserção da música “Domicile conjugal”, de Antoine Duhamel. Melodia que compõe um dos cinco filmes da saga Doinel.
A melodia está lá ilustrando Frances correndo como louca por Nova Iorque para sacar dinheiro num caixa rápido e voltar ainda mais rápido para pagar a conta de um jantar num primeiro encontro. Assim como Doinel, Frances está sempre correndo e se atrapalhando com os outros por conta de sua energia e espontaneidade.
Mas, ao contrário de Doinel, o foco nesse trecho de sua vida não é o sexo oposto. O filme inicia inclusive com Frances terminando um namoro. O norte aqui é a pureza do seu amor pela melhor amiga Sophie (Mickey Sumner); e como a bailarina Frances irá, aos 27 anos, ter de amadurecer para inevitável necessidade de virar “gente grande”.
Os “capítulos” do filme são marcados pelos endereços onde Frances vai se mudando ao longo da história. Na verdade são os indícios mais fortes de sua falta de dinheiro e da dificuldade de ser independente.
Com seus diálogos rápidos e afiados, “Frances Ha”, o filme, e Frances, a personagem, são inspiradores. Baumbach fez um filme cuja narrativa de tão fluida, crível e alegre sugere que um filme assim pode ser feito fácil, fácil. E por qualquer um. Lêdo engano, há aqui um sofisticada inteligência que muito poucos atingem.
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