Esta semana uma notícia curiosa sobre cinema chegou à imprensa. Dizia que o filme de Kleber Mendonça Filho, “O Som ao Redor”, havia sido proibido de exibir na China, dentro de um festival de cinema brasileiro por lá. Junto a ele foram vetadas outras três produções nacionais, dais quais uma é o cearense “Rania”. Dirigido por Roberta Marques, a ficção pode ser vista hoje no Recife dentro da Sessão de Arte do UCI/Ribeiro.

O roteiro acompanha a vida da jovem que dá título ao filme (vivido pela atriz não-profissional Graziela Felix). Rânia é uma adolescente pobre e vive num morro em Fortaleza. Sua válvula de escape para a vida dura que leva é a dança.

É também pela dança que, a certa altura, ela precisa se decidir entre duas opções para o futuro. Uma para atender uma necessidade imediata, outra para atingir um sonho; ou seja, ganhar dinheiro como bailarina numa boate decadente, ou sacrificar-se para tornar-se uma bailarina profissional.

No primeiro caso, o personagem que vai intermediar Rania na boate é a amiga Zizi (a boa Nataly Rocha). No segundo caso, a chance aparece quando a menina conhece a professora Estela (Mariana Lima). É um conflito ordinário na história do cinema, mas não menos duro e pertinente por isso.

Por um lado está a facilidade e diversão do trabalho noturno (a um pulo da prostituição), no outro vem a certeza da beleza no balé clãssico, mas a dificuldade financeira para acessar este universo.

Mesmo com uma construção dramática consistente, e bastante competência e beleza do elenco feminino, “Rania” não empolga. A, talvez, linearidade na tensão distribuída ao longo do filme, ou falta de picos de tensão, seja o responsável por deixá-lo chegar ao espectador com baixo impacto.

Roberta Marques, entretanto, consegue destacar-se, principalmente na composição das coreografias, que encantam exatamente pelo domínio da imagem sobre a fala. Fala que é sempre muito presente ao longo desta obra que parece pedir silêncios.