23o. Cine Ceará (2013) – noite 4
Documentário mexicano desponta como favorito no Cine Ceará
Por Luiz Joaquim | 12.09.2013 (quinta-feira)
FORTALEZA (CE) – Com a exibição do mexicano “El Paciente Interno”, de Alejandro Solar Luna, na noite de terça-feira, o 23º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema elevou seu nível.
Exibindo antes aqui em Fortaleza antes que em seu próprio país (lá só estréia 27 de setembro) “El Paciente Interno” cai como uma bomba, esgarçando uma situação política absurda daquela nação, que viveu grande parte dos anos 1960 sob um governo repressivo disfarçado de democrático.
O documentário revê essa história, recheada de desaparecidos políticos, a partir da emblemática figura de Carlos Castañeda (à época das filmagens, 2010, com 69 anos). A partir de uma acusação de tentativa de homicídio em 1970 contra o então presidente mexicano Diáz Ordaz, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Castañeda foi internado num manicômio sem nenhum julgamento ou laudo médico que atestasse sua insanidade.
Castañeda ficou 23 anos neste manicômio, dos quais os quatro primeiro foram vividos completamente isolados do mundo, e os 19 seguintes em condições sub-humanas. Colocando-se muito próximo de seu personagem, Alejandro deixa claro que Castañeda não era exatamente perigoso, apesar de perturbado.
A razão de seu ato, o qual o filme aponta como tendo sido o disparo de um tiro sobre um carro da comitiva presidencial de Ordaz, foi estimulado por uma espécie de fanatismo religioso vivido por Castañeda, influenciado pela leitura do romance mexicano “Hector” que sugeria uma guerra cristã contra a revolução mexicana dos anos 1930.
Supostamente, para Castañeda à época do caso, ele deveria vingar as mais de 360 pessoas assassinadas e 1968 na praça de Tlatelolco, Cidade do México, pelos militares de Ordaz.
Rico em informações garimpadas em imagens de arquivos, documentos oficiais do governo e entrevistas, “El Paciente Interno” questiona quem é mais louco e vítima nessa história. Se Castañeada em sua idéia ingênua de se tornar um mártir religioso, ou se Ordaz, responsável pela morte de centenas, e desaparecimento de outros tantos, sem nunca ter sido punido.
A sessão de curtas-metragens da terça-feira também ofereceu um dos melhores momentos do Cine Ceará pelo baiano “Jessy”, de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge. A personagem título é na verdade um personagem criado e vivido pela diretora Paula Lice. Ela se submete a diversas travestis que tentam transformá-la numa diva de um cabaré, cuidando da postura enquanto dubla “On My Own” de Nikka Costa.
“Jessy” arrancou gargalhadas da platéia e fez da terça-feira a melhor noite – até então – do festival que encerra sua competição amanhã e promove a premiação no sábado.
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