46o. Brasília (2013) – abertura
Brasília reforça a vocação de um grande festival
Por Luiz Joaquim | 17.09.2013 (terça-feira)
Quando, em 17 de julho, foi divulgada a seleção competitiva do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que inicia hoje e segue até 24 de setembro no Distrito Federal, ficou clara a representatividade nacional que a comissão de seleção definiu para o programa 2013. Divididos em cinco categorias – longas e curtas-metragens de ficção e documentário, além de curtas de animação -, os 30 filmes (seis para cada categoria) vêm de diversos estados do País. Além de brigar pelo troféu Candango, os títulos disputam os rechonchudos prêmios em dinheiro que, em todas as categorias, somam R$ 700 mil.
Mesmo não tornando-se mais uma vez, como em 2012, uma sucursal do cinema que vem de Pernambuco, quando ali lançou sete novos filmes do Estado, este 46º Festival de Brasília foi mais uma vez bastante atento à produção audiovisual pernambucana. Desta vez, a seleção, originalmente, convocou um longa-metragem e dois curtas, uma ficção e uma animação.
O longa é o documentário “O Mestre e O Divino”, de Tiago Campos, pelo qual registra a vida na aldeia e na missão de Sangradouro, Mato Grosso. No filme, Campos resgata imagens feitas em Super-8 nos anos 1950 pelo missionário alemão Adalbert Heide e as confronta com imagens feitas pelo xavante Divino Tserewahu, criador de produtos audiovisuais desde anos 1990. A soma dos trabalhos oferece uma curiosa dimensão sobre a colonização índigina no Brasil.
Entre os curtas, as atenções voltam-se para a estreia do jornalista Júlio Cavano no cinema. Ele assina a direção da animação “Deixem Diana em Paz”, pela qual, a partir dos traços impressos nas obras de seu pai, o artísta plástico Cavani Rosas, o jornalista apresenta uma mulher que aos 30 anos de idade decide mudar de vida. Dando voz ao desenho, estão Irandhir Santos e Joana Gattis.
O outro curta pernambucano, a ficção “Au Revoir”, de Milena Times, também exibido no 23º Cine Ceará, também ganha espaço em Brasília e apresenta um momento delicado na vida de uma brasileira morando na França.
Além de “Au Revoir”, o lançamente dos dois trabalhos de Pernambuco em Brasília já seriam uma boa notícia. Mas ele ficou ainda melhor dia 12 de agosto, quando a organização do festival anunciou a opção de Vicente Ferraz retirar seu longa de ficção “A Estrada 47 (A Montanha)” da competição, dando assim espaço para “Amor, Plástico e Barulho”, de Renata Pinheiro entrar na disputa.
Multipremiada não apenas como a disputada diretora de arte que é, mas também como diretora de curtas-metragens, Pinheiro agora chega ao circuito dos festivais como diretora de um longa de ficção. Em “Amor, Plástico, Barulho” ela mergulha no universo da música brega nordestina – ambiente já (bem) tratado pelo companheiro da diretora, Sérgio Olivéira (com Petrônio de Lorena), no curta “Faço de Mim o Que Quero”.
Desta vez, Pinheiro concentra-se em duas cantoras bregas, uma é a experiênte e em já decadência artística Jaqueline (vivida por Maeve Jinkings), e a outra é a principiante Shelly (Nash Laila), cheia de sonhos para brilhar neste mundo pautado por coisas descartáveis, inclusive as relações humanas.
Pode-se dizer que há ainda, na produção brasiliênse “Plano B”, um ranço de Pernambuco. O documentário de Getsemane Silva, recifense radicado em Brasília, resgata um filme realizado nos anos 1960 por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), sob o espírito do Cinema Novo, a respeito dos subúrbios pobres da então recente Capital Federal. “Plano B” revisita hoje, aquilo que Joaquim Pedro quis mostrar há 45 anos.
PS – Além de Renata Pinheiro estreando numa ficção, Brasília também vai apresentar a primeira vez nesta categoria de Paulo Sacramento, com “Riocorrente”, e Paula Gaitan, com “Exilados no Vulcão”, além de “Avanti Popolo”, de Michael Wahrmann.
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