Ferrugem e Osso
Alma despedaçada, vida em movimento
Por Luiz Joaquim | 06.09.2013 (sexta-feira)
Quem for assistir “Ferrugem e Osso” (De Rouille et d Os, Fra., 2012), de Jacques Audiard, deverá sair do cine Rosa e Silva pensando: “Mas quantas questões abordadas num só filme!”. Apesar das pouca referência que possui com o espectador brasileiro, Audiard é um tarimbado diretor e ainda mais experimentado roteirista francês.
Sua experiência de mais de 30 anos roteirizando filmes talvez explique a precisão e organicidade vistas em “Ferrugem e Osso”. Audiard construiu aqui não apenas um par de miseráveis que se encontram e desencontram na tentativa de emergir de um mar de problemas deprimentes, ele também amarra instrisicamente as situações do “acaso” para nos mostrar a direção para onde irá a vida destes personagens.
É algo bastante parecido com o que conhecemos como a vida em si, ou seja, algo que achamos estar totalmente controlado, quando ela mostra o inverso.
No filme temos Stéphanie (Marion Cotillard) e Alain (Matthias Schoenaerts). Ela trabalha num parque aquático treinando e fazendo performances com baleias orcas. Nas folgas gosta de ir dançar e paqueras em boates. Ele é um brucuto desempregado, que precisa da ajuda da irmã mais velha para dar um teto ao filho de cinco anos. Pula de um emprego a outro, como segurança ou vigia, mas descobre que pode fazer mais dinheiro, e mais rápido, como lutador clandestino.
Audiard nos apresenta os dois personagens seguindo seus trilhos, fazendo-os cruzar em um ponto. Este ponto é a boate, onde os dois estão em lugares sociais distintos – ela frequentadora, ele segurança -, mas a posição sentimental é a mesma.
Só adiante, a partir de um desgraça, os dois voltam a se encontrar. Não há espaço, entretanto, para sentimentalismo. Audiard constrói seus personagens com consistência suficiente para gostarmos deles, nos interessarmos por eles e torcer por eles. Independente de serem corretos ou malvados. É o exemplo de um cinema que não tenta explicar atos equivocados, apenas os contextualiza para nós mesmos julgarmos.
Vale dizer que tanta sutileza dramática não serviria de nada se o protagonismo não fosse defendido com tanto talento como o apresentado pela dupla Cotillard e Schoenaerts. Eles dão vida a personagens tão ricos quanto apaixonantes e assustadores. Uma combinação bombástica e difícil de compor.
– O diretor Jacques Audiard é razoavelmente conhecido no Brasil pelos filmes “Sobre os Meus Lábios” (2001), “De Tanto Bater meu Coração Parou” (2005), e “O Profeta” (2009). Todos sobre personagens em seu limite.
– “Ferrugem e Osso” concorreu na seleção oficial do Festival de Cannes, em 2012. Concorreu também em 2013 ao Globo de Ouro de filme estrangeiro e melhor atriz dramática (Cotillard).
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