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Reportagens

Gênio desconhecido

Obras de Alberto Cavalcanti ainda são um mistério para o brasileiro

Por Luiz Joaquim | 02.09.2013 (segunda-feira)

Em um país que reconhece a si próprio pela sua falta de memória, não é de se espantar que a figura fundamental que foi o cineasta Alberto Cavalcanti (1897-1982) seja tão pouco conhecida no Brasil. Pensando nisso, o escritor e cineasta Fernando Monteiro iniciou ano passado uma conversa com a Fundação do Patrimônio HIstorico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) na qual ele sugeria um grande evento para resgatar o devido valor a Cavalcanti, cuja obra permanece pouco conhecida do grande público.

A ideia original de Monteiro, que conheceu Cavalcanti no Recife em 1972, era montar uma grande mostra sobre o cineasta destacando uma boa parte das obras deste realizador cuja história pessoal confunde-se com a história do cinema.”Lendo a prestigiada revista inglesa Sight & Sound vi um artigo que equiparava a obra de Cavalcanti com a de Hitchcock em termos de importância para a Inglaterra”, lembra o escritor.

O plano de Monteiro era aproveitar em 2012 a efeméride dos 30 anos da morte do cineasta para ilustrar a mostra. “Não obtive respostas e, este ano, ressaltei outra oportunidade de celebração, por ocasião dos 60 anos de lançamento do filme -O Canto do Mar- no Cine São Luiz”, registra.

“Seria um momento oportuno destacar o porque desta figura ter sido o brasileiro que mais influenciou o cinema do mundo inteiro. Obras fundamentais dele, como “En rade” (1928), o documentário “Rien que Les Heures” (1930), “La Petit Chaperon Rouge” (1930), “Na Solidão da Noite” (Dead of Night, 1945) e ainda “As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby” (1947) são títulos que não foram vistos por aqui”, recorda Monteiro.

A Coordenadora de Audiovisual da Fundarpe, Carla Francine, respondeu que concorda com o escritor quanto a importância de Cavalcanti, mas não possui recursos para produzir um evento na dimensão que ele sugere.

“Entendemos a relevância de Cavalcanti, que ele é um injustiçado no Brasil e que tem pouca visibilidade. De qualquer maneira, nossa equipe está levantando informações na Cinemateca Brasileira, na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro, para entendermos que cópias estão disponiveis no País”, explica Francine.

Para Tarciana Portela, que estudou cinema na Inglaterra entre 1996 e 1998, essa falta de reconhecimento é associada a precariedade de estudos sobre cinema no Brasil. “Quando se fala de Cavalcanti mesmo nos cursos de cinema, concentra-se em sua fase na Vera Cruz”, destaca.

“No exterior há uma vasta bibliografia sobre o cineasta, coisa que não existe por aqui”, conta Tarciana que, de volta ao Recife, por volta dos anos 2000 promoveu exibições de seus filmes e realizou debates no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, contando com a presença de Elizabeth Sussex, uma das maiores pesquisadoras sobre Cavalcanti na Inglaterra.

Monteiro ainda destaca o lado humano de Cavalcanti, aspecto ainda mais desconhecido dos brasileiros. “Ele era um homem bom. De alma pura. Essa enorme generorisade o fazia sofrer muito com os desencontros aos quais foi submetido no Brasil”, conclui.

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