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Festivais

46o Brasília (2013) – noite 5

Brasília revista por um pernambucano

Por Luiz Joaquim | 24.10.2013 (quinta-feira)

BRASÍLIA (DF) – Na penúltima noite competitiva, o domingo, do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um documentário realizado por um pernambucano aqui na Capital Federal atraiu o interesse não apenas dos nativos, graças ao assunto que aborda, como também os curiosos pela história do cinema nacional. O filme é o longa-metragem “Plano B”, seu realizador é Getsemane Silva, jornalista radicado no Distrito Federal há 15 anos.

Get, como é mais conhecido, resgata o curta-metragem “Brasília: Contradições de Uma Cidade Nova”, realizado em 1967 pelo cinemanovista Joaquim Pedro de Andrade, roteirizado pelo pesquisador Jean-Claude Bernardet e produzido pelo ator Joel Barcellos. Produzido a pedido da empresa italiana Olivetti, o curta foi retirado de circulação imediatamente após sua exibição neste mesmo Festival de Brasília, há 45 anos.

Isto porque aquilo que começava como um trabalho institucional para ressaltar os valores do projeto do plano piloto da cidade, ganhou, pelas mãos de Joaquim Pedro, outro rumo, tornando-se o primeiro filme denúncia de que o planejamento da cidade esqueceu-se dos pobres imigrantes que a construíram; transferindo-os posteriormente para áreas subumanas, desérticas e distantes de Brasília, a quatro horas de automóvel.

Apresentando-se inicialmente de forma explícita pela inquietação que moveu o realizador em produzir este trabalho, “Plano B” começa frágil. Mas Get o administra de maneira inteligente. Dá-lhe consistência quando investiga uma descendente de um dos personagens que Joaquim Pedro entrevistara há mais de quatro décadas. Nos faz assim refletir como seria a realidade atual se as contradições apontadas pelo diretor cinemanovista tivessem alcançado o mundo ainda na sua época.

Na disputa entre os longas-metragens de ficção, a noite de domingo apresentou a estreia do montador Paulo Sacramento (“O Prisioneiro da Grade de Ferro”) neste segmento. Seu novo filme, “Riocorrente”, apresenta três personagens paulistanos oprimidos pela metrópole, cujas diversas simbologias cinematográficas para representar esta opressão aparecem um tanto excessivas no filme – mas, de qualquer forma, extremamente bem produzidos e coerentes.

No enredo, temos o jornalista Marcelo (Roberto Audio) , meticuloso e vivendo no seu mundo particular. Sua namorada Renata (Simone Iliescu), a princípio bem de vida e entediada e usando o sexo como elemento a suprir este tédio; e seu amante, o ladrão de carros Carlos (Lee Taylor), um constante revoltado numa misteriosa relação com um garoto de rua.

Nesse triângulo de conflitos importa muito o pano de fundo (São Paulo), como bem disse Sacramento em entrevista ontem à tarde. A fotografia do filme foi realizada pelo mestre Aloysio Raolino (1947-2013). Para hoje à noite, o festival reserva a cerimônia de premiação.

CURTAS – A dupla curitibana Rafael Urban e Terence Keller projetou domingo talvez o melhor doc. da categoria: “A que Deve a Honra da Ilustre Visita este Simples Marquês”, pelo qual apresentam, com rigor formal, o colecionador paranaense Max Conradt Jr. Com seus planos fixos, o filme vincula-se ao premiado trabalho de Urban, “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” (2011).

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