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Festivais

6º Janela (2013) – Avanti Popolo

Casamento entre melancolia e rigor

Por Luiz Joaquim | 16.10.2013 (quarta-feira)

É raro, muito raro, encontrar filmes no Brasil que contenham em si um conceito particular não apenas bem pré-definido mas também bem executado, como vemos em “Avanti Popolo” (Bra., SP, 2012). O filme de Michael Wahrmann, que exibe em competição hoje às 19h40 no cine São Luiz dentro do 6º Janela Internacional de Cinema do Recife, é, nestes termos, o que podemos dizer de um filme perfeito, se isto existisse.

O rigor de seu enredo, do enquadramento fotográfico, de seu roteiro e sua música parecem formar uma blindagem que não deixa espaço para outra leitura que não seja a da coerência na construção deste universo melancólico criado por Wahrmann.

Nele, André (André Gátti) volta a morar com o pai (o cineasta Carlos Reichenbach, 1945-2012) que, com problemas na visão, vive apenas com seu cão Baleia e há 30 anos aguarda o retorno do outro filho da Rússia. Quando re-encontra velhos filmes em Super-8, André esforça-se para fazê-los ganhar nova vida. Algo que reflita na decadente casa do pai. Na sua sala de estar com paredes descacadas e que quase nunca vê a luz do dia.

Este rigor citado em “Avanti Popolo” – expressão que sugere o “ir adiante” nas dificuldades – abre espaços para, com inteligência e precisão, oferecer oxigênio em forma de comicidade ao espectador.

É o caso na presença do taxista viciado no hino de todos os países do mundo (interpretado livremente pelo cineasta Eduardo Valente, numa referência explícita à abertura de “Bang Bang”, 1971, de Andrea Tonacci); no rap russo que André encontra em vinil na casa do paí, e, mais explicitamente no técnico que conserta projetores de cinema e segue adiante num solitário movimento cinematográfico que ele próprio criou, o “Dogma 2002”.

Tais variações – nas imagens do Dogma 2002, o rigor dos planos fixos não existem, por exemplo – ao invés de desviar o foco de “Avanti Popolo”, reforçam-no. Deixando ainda mais firme a precisão deste filme tão antagonicamente livre e fechado.

PRÊMIO – “Avanti Popolo” foi selecionado nos festivais de Roterdã e Roma em 2013. Neste último, levou o prêmio de melhor filme na competição “Cinemaxxi”. No Festival de Brasília 2013, Reichenbach foi eleito melhor ator coadjuvante.

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