6º Janela (2013) – Doce Amianto
A dor e a felicidade do travesti Amianto no filme cearense
Por Luiz Joaquim | 17.10.2013 (quinta-feira)
A parceria entre o Cineclube Dissenso e o Janela Internacional de Cinema do Recife já gerou bons frutos e nesta edição, em sessão hoje às 20h20 no São Luiz, acontece mais uma de luxo, com a exibição pela primeira vez no Recife do ótimo longa-metragem cearense “Doce Amianto”, de Guto Parente e Uirá dos Reis.
É realmente complicado chegar próximo a uma tradução em palavras para explicar “Doce Amianto”. O que se pode dizer de seu enredo é que o travesti Amianto (Deynne Augusto) vive com sua longa peruca loira no seu particular mundo da fantasia. E esse mundo já atropela o espectador nas cenas ultra-coloridas de abertura com Amianto numa corrida “cinematográfica”.
Lá, Amianto só tem como amiga a Blanche (o diretor Uirá dos Santos), espécie de fada madrinha roxa e púrpura, que está sempre ali para aconselhar a romântica Amianto, deixada pelo homem de sua vida.
As cores berrantes e as conversas ingênuas entre Amianto e Blanche, ou ela flertando numa boate, são descontroladamente cômicas pelo exagero e rebuscamento descabido: “Como vai Amianto?”, arrisca um paquera na festa, “Vou indo rápido em direção ao meu futuro incerto…”, diz a heroína em seu torpor da paixão.
Com dois momentos fora do universo de Amianto – o flashback da vida pregressa de Blanche e a perspectiva de uma futura vida de casada de Amianto – são nada menos que geniais e inseridas de forma totalmente orgânicas nesse circo adorável criado por Guto e Uirá.
Com classificação etária 18 anos, vale registrar que “Doce Amianto” traz uma das cenas de sexo homossexual masculina mais séria e corajosa que temos conhecimento no cinema brasileiro.
Não só por isso, o que é apenas mais um de vários elementos fortes aqui, “Doce Amianto” ressalta não só a inventividade criativa (que roteiro!) da dupla, como também sua coragem de por em foco um filme único, incomum.
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