Gravidade
À deriva no espaço e na vida
Por Luiz Joaquim | 11.10.2013 (sexta-feira)
Caso hoje não fosse um dia sagrado para os cinéfilos pernambucanos, com “Tatuagem” de Hilton Lacerda abrindo o 6º festival Janela no cine São Luiz, o endereço obrigatório a ir à noite seria o dos multiplex, especificamente para ver “Gravidade” (Gravity, EUA, 2013). Dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón (“E sua Mãe Também”), a superprodução é sustentada quase que na totalidade apenas pelos atores Sandra Bullock e George Clooney.
Qualquer interessado em filmes de ficção científica que tenha o espaço sideral como referencia de ambiente encontrará aqui um prato cheio para encher os olhos e ouvidos e ficar aflito com as limitações impostas pela falta de gravidade, oxigênio e som. Para muito além do argumento simples – mas competente – que Cuarón bolou com seu filho Jonas Cuarón, “Gravidade” é um primor de harmonia entre fotografia, edição de som e efeitos especiais.
Por fotografia entenda não as belas imagens do planeta Terra vistas do espaço e geradas pelo famigerado efeito computadorizado CGI, mas sim a inteligência nos movimentos de câmera que envolve um sem fim de giros circulares ao redor de Bullock rodopiando solta e perdida na órbita terrestre.
Pelo som, há primeiro de pensar qual seria o ruído que representaria a pancada entre destroços de um satélite atingindo uma estação espacial. “Gravidade” não apenas nos envolve nesse sinfonia de barulhos, como também – e isto é raro no cinema contemporâneo – utiliza-se do silêncio absoluto (você só escutará o ar-condicionado da sala de cinema) para contrapor a tensão insuportável da fragilidade humana no vácuo com a sensação de profunda solidão do universo. A boa trilha sonora de Steven Price também reforça essa agonia.
O enredo, de tão simples, poderia ser transposto para qualquer outra situação limite em que uma pessoa se percebe sozinha e tem de decidir se segue tentando salva-se ou simplesmente deixar-se morrer. A qualidade do que se deriva desse argumento é o que deve ser destacado em “Gravidade”.
No filme Matt (Clooney) é um astronauta experiente no espaço que ajuda a inexperiente cientista Ryan (Bullock) a consertar um telescópio, mas tudo se transforma com uma chuva de destroços de um satélite russo. Sem contato com a Nasa, a única esperança de voltar a Terra está uma uma base espacial chinesa há centenas de quilômetros.
Entre detalhes científicos no roteiro, Cuarón abre também terreno para a fragilidade humana de Ryan, o que ajuda a nos identificarmos com ela e naturalmente incorporar o drama que a leva a perguntar-se, a certa altura, qual é mesmo o sentido de seguir vivendo. A cena final de “Gravidade” dá um boa dica de resposta.
RELIGIÃO – Depois de ganhar críticas positivas e quase unânimes ao redor do mundo, “Gravidade” já vem sendo cotado como o grande filme do Oscar 2014 e, nesta semana, ganhou novo fôlego na mídia de uma fonte surpreendente. Veio de críticos cristãos, dizendo que o espetáculo 3D do filme celebra a presença de Deus no universo.
COMPARAÇÕES – Críticos limitados apressaram-se em comparar “Gravidade” com “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968), de Kubrick. Outras comparações deverão surgir, como a “Alien: O Oitavo Passageiro”, pela obviedade do herói ali ser uma mulher solitária no espaço.
ELOGIO – O diretor James Cameron, de “Avatar”, declarou que “Gravidade” é “o melhor filme de espaço já realizado”. Quentin Tarantino incluiu “Gravidade” entre seus dez melhores filmes vistos em 2013.
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