Serra Pelada
Bangue-bangue em Belém do Pará
Por Luiz Joaquim | 18.10.2013 (sexta-feira)
Sempre lembrado por “O Cheiro do Ralo”, o cineasta pernambuco Heitor Dhalia agrega a uma filmografia de cinco longas-metragens seu projeto mais audacioso: “Serra Pelada” (Bra, SP, 2013), e que deve tornar-se referência em seu histórico.
Com um orçamento de R$ 10 milhões, a produção reúne uma combinação de talentos que salta aos olhos em primeiro lugar, pela direção de arte e cenografia, e depois pela atuação afinada do elenco composto por Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Matheus Nachtergaele, Wagner Moura e Sophie Charlotte (da telenovela “Sangue Bom”), impressionante aqui como a prostituta Tereza
Essa afinação funciona para reforçar a ideia de que estamos mesmo na 1980 do Pará, quando explodiram no Brasil as notícias das gignates pepitas de ouro encontradas ali. Logo, logo o filme concentra-se nos amigos de infância Juliano (Cazarré) e Joaquim (Andrade).
O primeiro é ganancioso e quer conseguir ali o poder por meios ilicitos. O segundo quer apenas muito dinheiro para garantir o futuro do recém-nascido que deixou em São Paulo. No caminho dessa escalada, os amigos transformam-se (para pior) ao enfrentam o todo-poderoso Carvalho (Nachtergaele) e Lindo Rico (o também produtor Moura, em performance memorável).
Com um muito bom roteiro a seu serviço, “Serra Pelada” flui fácil – com uma ou outra excessão numa montagem acelerada. A correria revela um esquematismo das situações – assim como “Cidade de Deus” – cuja velocidade é um tanto valiosa para a ação e menos interessada na dramaticidade de seus personagens.
Sequências como o pesadelo de Joaquim pela malária soam descartável, apesar de plasticamente belíssima. Outro ponto destoante está quando Juliano mata um homem pela primeira vez em meio ao formigueiro do garimpo.
Igualmente bem encenada, ela entra atropelando o ritmo e revela-se como a forma mais saliente do esquematismo do roteiro. Mesmo assim, “Serra Pelada” guarda em si um potencial que mostra o qual digamos, industrial, pode ser Heithor Dália.
PRODUÇÃO – Muitas das filmagens de “Serra Pelada” teriam espaço em Belém, mas aconteceram em Paulínia. Wagner Moura teria um papel maior, mas tornou-se Lindo Rico quando a mudança das locações aconteceu e suas ações de produtor falaram mais alto.
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