Vinícius de Moares e o cinema
Além de compor trilhas sonoras, ele também foi crítico de cinema
Por Luiz Joaquim | 28.10.2013 (segunda-feira)
Não era pouco comentada a paixão que o poetinha alimentava pelo cinema. Um paixão que o levou a, inclusive escrever crônicas diárias sobre o assunto num jornal carioca (leia abaixo). O amor pelo brilho na tela começou ainda quando pequeno, frequentando as na matinês do cine Metro-Copacabana.
Tanto interesse naturalmente o levou a sair da posição de espectador para criador, colaborando naquilo que era craque: por meio dos versos. Essa primeira experiência surgiu ao compor “Lamento” para o filme “Sol Sobre a Lama” (1963), de Alex Viany (um crítico de cinema). A melodia era musicada por Pixinguinha, a quem o poeta chamava de “meu querido pai”. O poeta foi também parceiro de Paulo César Saraceni para quem criou músicas nos filmes “Porto das Caixas” e “A casa Assassinada”.
Depois viria o surgimento de um clássico, o enredo para um flme (dirigido por Leon Hirszman e roteirizado por Eduardo Coutinho, Glauber Rocha e o próprio Vinícius) baseado em “Garota de Ipanema” (1967). O longa foi estrelado por Márcia Rodrigues interpretando Helô Pinheiro, a garota original.
Ver uma obra sua ser adaptado para a tela grande não era, na verdade, novidade para o poeta que viu sua peça “Orfeu do Carnaval” virar o filme “Orfeu Negro” (1959) pelas mãos de Marcel Camus. O filme tornaria-se um sucesso mundial. Venceu a Palma de Ouro em Cannes e Oscar de estrangeiro nos EUA. No filme estão as composição “A Felicidade” e “O nosso amor”.
Depois, em 1966, uma polêmica surgia. O composito frances Pierre Barough fez “Samba Saravá” para o filme “Um Homem, Uma Mulher” – pelo qual o diretor Claude Lelouch levou dois Oscars (fime estrangeiro e roteiro original). A música era uma cópia de “Samba da Benção”, de Baden Powell e Vinicius, que venceram o processo contra o francês.
Diz-se também que Vinicius, ele próprio alimentava o projeto de fazer um filme chamado “Polichinelo”, mas que nunca se realizou, embora tenha rendido algumas canções.
O CRÍTICO – Entre os anos de 1941 e 1942, os cariocas fãs da sétima arte tinha a felicidade de abrir as páginas do jornal “A Manhã” e encontrar comentários sobre cinema assinados pelo então já respeitado poeta Vinícius de Moraes.
Sobre os textos, reúnidos no livro “O Cinema dos Meus Olhos”, o cineasta Arnaldo Jabor já comentou: “Quando Vinicius ia ao cinema, a imagem era uma esperança, não um ferro-velho se amontoando em nossos olhos. Cada fotograma aspirava a um sentido, cada filme buscava uma remissão. A Arte ainda era uma força revolucionária”.
Foi também por sua paixão pelo cinema que o poeta tornou-se amigo de Orson Welles e procurou ter aulas sobre o assunto com Gregg Toland, o cinegrafista de “Cidadão Kane”.
Um dos momentos mais polêmicos dessa sua breve carreira diz respeito a um debate que levantou entre o cinema mudo contra o cinema falado. Foram momentos quentes em que parcitiparam, entre outros, Manuel Bandeira, Humberto Mauro e Aníbal Machado. Foi também um período em que o cinema brasileiro ganhava pela pena de Vinicius, ainda que timidamente, suas primeiras avaliações críticas.
Frases do crítico de cinema Vinícius
– “Há em Hollywood, desde velhos tempos, a superstição de que quando morre um ator, dois se lhe seguem. Três são sempre os que devem morrer, e uma série de coincidências têm ajudado a manter viva a idéia”.
– “Meu avô é a única pessoa que eu conheço que não acredita no cinema. Ficou com os calungas da Lanterna Mágica, E vá alguém convence-lo de que aquilo tudo existe realmente, que Greta Garbo ou Carlitos são criaturas de carne e osso como qualquer um de nós; ele se abespinha! “Tolices, meu filho”, me diz sempre. “Patacoadas de jornal. Aquilo tudo são bonecos. Pois então eu não vi, no meu tempo…”
– “Ontem fui à Cinédia, a convite de Orson Welles, para vê-lo um pouco em ação. Anteontem o havia encontrado em Copacabana, e, como sempre acontece quando o encontro, toda a minha admiração e simpatia por ele se renovaram”.
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