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Críticas

Azul É a Cor Mais Quente

Retrato de um amor devastador

Por Luiz Joaquim | 06.12.2013 (sexta-feira)

Aquele que se referir a “Azul É a Cor mais Quente” (La Vie D’Adele, Fra., 2013) – filme de Abdellatif Kechiche – como a “história da iniciação homossexual de uma adolescente” estará sendo reducionista e, consequentemente, injusto com o filme que estreia hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

Aquele que entender que aqui está uma bela obra sobre “o primeiro amor de uma menina” terá maior chance de perceber a dimensão dramática do contexto e a riqueza de seus personagens.

O filme chega ao mercador exibidor sob a tradicional expectativa chancelada pela Palma de Ouro que conquistou no Festival de Cannes, além dos prêmios da crítica e de melhor atriz compartilhados pelas protagonistas Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux (famosa por “Bastárdos Inglórios” e “Meia-Noite em Paris”).

Há, entretanto, um condimento safado que vem estimulando os curiosos. São as cenas de sexo entre Seydoux e Exarchopoulos. Realizadas com realismo – próprio do cinema do tunisiano Kechiche – e muita intensidade, elas podem incomodar alguns expectadores.

Mas a intensão aqui é incomodar pelo contraditório dos sentimentos confusos e intrísicos a qualquer ser-humano, e não por algo já estabelecido como permissível neste mundo contemporâneo: o sexo entre duas mulheres.

“Azul É a Cor mais Quente” acompanha, nas suas três horas de duração, o amadurecimento da menina Adèle (Exarchopoulos) entre seus 17 e 22 anos. Como qualquer adolescente, ela se sente insegura quanto a sua beleza e titubeia na paquera de um colega. Ela não o evita, mas sente-se “enganando-se o tempo todo”.

Até que cruza na rua com Emma (Seydoux) uma estudante de belas artes, mais velha, sedutora com seus cabelos azuis, e que não esconde sua homossexualidade. Ambas se apaixonam e vivem um amor pleno.

E mesmo Adèle sabendo exatamente o que quer fazer da vida, ela é naturalmente a mais vulnerável do casal pela sua inexperiência. Enquanto Emma soa como a artista em constante busca por algo, e não acredita que Adèle possa ser feliz com tão “pouco”.

Há uma diálogo no filme que parece dar uma pista do alcance onde “Azul…” chegaria se um discurso sexista pré estabelecido não estivesse tão impregnado na cabeça de boa parte destes seus juízes, os espectadores (sejam heteros ou homossexuais).

Ele acontece numa festa na qual Emma discute com uma amiga que é pos-doutorando sobre a obra de Egon Shiele. A amiga não aceita Emma preferir Klint a Schiele. “Klint é florido”, condena a pesquisadora. “Schiele é soturno”, rebate Emma. A discussão parece cega, com ambas elegendo seu artista favorito, e ficando claro que é a pessoalidade de cada uma que fala ali, e não a de analistas.

A leitura para “Azul É a Cor mais Quente” também poderá ser assim caso o espectador insista na pessoalidade e, por ela, procurar equívocos ou defeitos na relação de Emma e Adèle tendo a homossexualidade como foco. O que está em jogo aqui, mais uma vez, não é isto, mas a capacidade contraditória e universal do ser humano. Um incorrigível em se trair quando é movido por sentimentos profundos como o amor.

Ao final, a informação mais sensata do filme vem de um figurante tatuado, sem nome, divertindo-se num inferninho. Ele diz: “A vida é bizarra, aproveite os bons momentos”.

Origem – o filme foi adaptado do HQ “Le bleu est une colour chaude”, de Julie Maroh. A autora não gostou da versão para o cinema. O diretor Abdellatif Kechiche defende-se dizendo que nos quadrinhos a protagonista vive com culpa, dando um sentido mais militante à história, enquanto o filme tenta fugir disto.

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