Para refinar a arte do cinema pernambucano
Porto Mídia funciona em caráter de teste com equipamento para finalização audiovisual
Por Luiz Joaquim | 03.12.2013 (terça-feira)
O anúncio oficial de seu funcionamento para a sociedade só deve acontecer em janeiro de 2014, mas hoje mesmo o equipamento de finalização audiovisual do Porto Mídia já trabalha em caráter soft-open, em experimentação e teste. Na verdade o Porto Mídia – espaço localizado no número 181 da rua do Apolo, Recife Antigo – foi inaugurado em agosto último e, há cerca de duas semanas, este empreendimento do Porto Digital vem afinando tal serviço de finalização audiovisual com um equipamento milionário. A iniciativa certamente irá acelerar ainda mais a performance do cinema pernambucano no mercado nacional e mundial.
A cooordenadora de tecnologia do Porto Mídia, Mariana Valença, destaca que o software “Baselight 4”, da empresa britânica “FilmLight”, só está disponível em outros dois lugares na América Latina. “Além de contarmos com a tecnologia agora no Recife, a Rede Globo já trabalha com este sistema, e uma produtora privada no México também conta com ele”, destaca.
Com investimento girando em torno de R$ 1 milhão (que englobou a instalação e o treinamento), tal equipamento para mixagem de som e correção de cor em imagens vai possibilitar que os produtos audiovisuais no Estado passem pela última instancia da finalização aqui mesmo no Recife.
Isto inclue, por exemplo, a conversão dos arquivos digitais com capacidade 4K para o formato padrão mundial de exibição nas salas de cinema – o Digital Cinema Package (ou DCP). Até então, todos os filmes locais – entre curtas, longas-metragens – submetiam esse tratamento no Sudeste do País ou no exterior. Segundo a coordenadora, a premissa para a definição de aquisição deste equipamento foi a de que ele pudesse permitir alcançar, pela técnica, o status da arte para a produção local.
Mariana lembra que este recurso chega num momento interessante também por conta da lei 12.485/2011, conhecida como a “Lei da TV Paga”, que agora obriga tais tevês a exibirem 3h30min por semana de produção audiovisual brasileiro em horário nobre. “Com a demanda da legislação, estas produções devem aumentar por aqui e a agilidade local para a finalização é fundamental para entrarmos bem nesse mercado”, ressalta.
“Já estamos preparando um formulário pelo qual os interessados, no próximo ano, possam inscrever seus projetos de finalização e daí possamos organizar a demanda, que esperamos ser grande aqui no Estado”, complementa Mariana. Mas ela lembra: “como parte do usufruto pelo serviço, vamos solicitar contrapartidas como, por exemplo, a oferta de cursos, workshops, etc”.
Outra informação importante é que, pelo perfil público do Porto Mídia, a FilmLight estuda a possibilidade de utilizar o espaço no Recife como seu primeira braço fora da Grã-Bretanha a funcionar como um centro de treinamento para utilizar o equipamento.
LUIZ GONZAGA
Apesar de não ter oficialmente começado a operação do novo equipamento, a equipe do Porto Mídia vem trabalhando na finalização dos projetos audivisuais realizados por encomenda pelo Governo do Estado para ilustrar o centro cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga, com inauguração marcada para o dia 13 de dezembro.
Esta semana, por exemplo, Paulo Caldas se debruça no Porto Mídia em sua obra “Lua”, uma espécie de memória afetiva do Sertão, com imagens feitas em Serrita e Buique. Há duas semanas era Lírio Ferreira que esteva no lugar finalizando o projeto “4Kordel”. Ainda deve passar por ali Marcelo Gomes, com o seu “O Sertão É o Mundo”.
Para o Cais do Sertão, também estão sendo preparados trabalhos de Camilo Cavalcante – um coletânea de depoimentos de migrantes nordestinos -, e de Kleber Mendonça Filho, que oferece uma olhar inusitado sobre uma “feira” em Pernambuco.
A morte do “Beatle” João Heleno
Entre o trabalho de um projeto e outro para o Cais do Sertão, a equipe do Porto Mídia, concluiu semana passada – também como exercício – a finalização de um curta-metragem independente. Foi “João Heleno dos Brito”, de Neco Tabosa (de “A Vida Plural de Layka”), contemplado pelo Funcultura em 2010.
“Desde de 2009 eu perseguia a ideia de rodar esta história que conheço de Caruaru, lugar aonde vou sempre, ao menos uma vez por ano”, conta Neco. Ele lembra que, por ocasião da morte do Beatle John Lennon, em 1980, aconteceu um confusão com um personagem de uma família daquela cidade.
“Alguém entendeu errado, ao ouvir o Cid Moreira dar a notícia na tevê que um Beatle teria sido assassinado com cinco tiros à queima-roupa. Pensaram que alguém da família dos Brito, e não dos Beatles, era a vítima, e isso ia gerar uma guerra na cidade. O boato correu e os comerciantes fecharam as portas com medo do confronto iminente”, adianta o realizador.
Com a premissa da confusão na cabeça, Neco criou um enredo que contempla, em 16 minutos, o que teria acontecido antes e depois da notícia e do boato. “Rodamos o filme em maio. Hoje Caruaru está mais para Miami ou São Paulo, cheio de neons e coisa e tal”, brinca. “Daí tivemos de procurar outros lugares que lembrassem a Caruaru da época. Encontramos estas locações em Lagoa dos Gatos, Brejo da Madre de Deus e em São Caetano”, concluiu.
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