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Reportagens

Um cinema calado

O crítico de cinema faleceu vítima de problemas respiratórios

Por Luiz Joaquim | 27.12.2013 (sexta-feira)

Uma voz forte, grave e segura marcava o programa de rádio “Sétima Arte”, que até o final da década passada informava e embelezava as frequências de ondas curtas e longas do Recife com trilhas sonoras e notícias sobre o cinema do mundo inteiro. Esta voz era de Ivan Soares, falecido no manhã de quarta-feira, aos 81 anos, vítima de complicações respiratórias e cardíacas.

Sendo um dos últimos profissionais da imprensa que ajudou a formar a cultural cinematrogáfica de hoje em Pernambuco, Ivan vinha tratando-se contra o mal de Parkinson, que o acompanhou mais fortemente nos últimos seis anos. Foi por conta da doença, que o jornalista precisou parar com o “Sétimo Arte”, que ia ao ar pela Rádio Universitária durantes os finais de semana por cerca de 40 anos.

Na manhã de ontem, no velório ocorrido no cemitério de Santo Amaro, o gerente de programação do Grupo Severiano Ribeiro na região, Pedro Pinheiro, lembrou que Ivan o ajudou muito no início de sua carreira. “O conheci em 1982 e admirava tanto o Sétima Arte que eu o ouvia tanto no sábado quanto a reprise no domingo. O tinha como um amigo e nunca conheci ninguém que tivesse alguma queixa contra ele”.

Para o cineasta Kleber Mendonça Filho, que dirigiu a narração de Ivan para o curta-metragem “Vinil Verde” (2004), o radialista era uma referência que não se podia ser evitada. “Ainda na faculdade, já querendo fazer cinema, eu conheci Ivan e ele me abriu todo um universo do cinema clássico. Isso de certa forma reforçou em mim a ideia de seguir adiante nessa área”.

Já o ator Germano Haiut, lembrou do Ivan Soares ator. “Trabalhei com ele no Teatro Popular do Nordeste (TPN). Era um apaixonado também pelo teatro e o levava muito a sério. Já na rádio marcou uma época quando quase ninguém dava atenção ao assunto”, destacou. O jornalista, radialista e publicitário Ivan acessou os palcos por meio de Hermílo Borba Filho. Ivan tinha especial carinho por duas peças na qual trabalhou pelo TPN: “Galileu, Galilei”, de Bertolt Brecht, e “A Resistência”, de Maria Adelaide Antunes.

Entre participações em vários meios de expressão, Ivan ainda chegou a acumular uma função na Empresa de Turismo de Pernambuco – Empetur. Entre várias colaborações para o acervo cultura da instituição, o jornalista lembra da entrevista que fez com Alberto Cavalcanti (1897-1982).

Mas sua maior paixão sempre foi o cinema, e sobre a gigantesca discoteca de trilha sonoras que amealhou ao longo de viagens para o exterior, ele dizia, com a modéstia que lhe era peculiar: “Não deve ser a maior não. Deve haver alguém ainda mais fanático que eu por aí”.

Depoimentos

“Estive com ele na quarta-feira pela manhã, duas horas antes do falecimento. Era uma figura impar, de caráter impecável. Nossa relação ultrapassava a do profissional para a de amigos”.
Pedro Pinheiro, exibidor

“Era um profissional engajado. Sempre com um humor afiado, irônico. Ainda como estudante, tomei um depoimento dele para [o curta] Casa de Imagem. Soube que sua última ida ao cinema foi para ver O Som ao Redor”.
Kleber Mendonça Filho, cineasta

“Era extremamente culto e também um estudioso e pesquisador incansável. Assistia a tudo. Era um ótimo amigo e um profissional muito sério”
Germando Haiut, ator

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