17o Tiradentes (2014) dia 3
Encontro emblemático entre espelhos
Por Luiz Joaquim | 28.01.2014 (terça-feira)
TIRADENTES (MG) – Na manhã de ontem a 17a Mostra de Cinema de Tiradentes deu, pela curadoria de Cléber Eduardo, um enorme presente ao pensamento do atual cinema pernambucano. Ele veio na forma do aqui já tradicional “Encontro com a crítico, diretor e público”. No caso, o professor Ismail Xavier foi o pensador convidado para debater “Amor, Plástico e Barulho”, filme de Renata Pinheiro, que exibiu na noite do domingo dentro da mostra “Transições”.
Após uma prévia colocação sobre a ressonância social que o filme traduz a partir da história sobre a tentativa de ascensão da aspirante à cantora brega, Shelly (Nash Laila), e a decadência da experiente cantora Jacque (Maeve Jinkings), Ismail chamou a atenção para o jogo de espelho entre as personagens, tendo o corpo nesse aspecto uma relação não apenas marcada pela excitação, mas também pelo mal-estar.
“Nessa visão geral, trabalha-se a busca pelo glamour, mas elas reconhecem ali um percurso áspero a ser trilhado. Nesta questão da cultura emergente vemos uma repetição, e isso possibilita perceber a presença de uma sociedade pratiarcal”, destacou.
Ismail lembra que além do espelho como elemento metafórico, existem outros no filme que ligam a experiência de uma personagem a outra na ambição daquele espaço. “A Shelly é a própria encarnação de um desejo mimético. Ou seja, ela usa a Jacque para construir seu próprio desejo”, disse o pesquisador.
O roteirista Sérgio Oliveira, lembrou que as duas personagens funcionam como uma só, sendo uma o futuro da outra, e a outra sendo o passado da primeira. “Mas a presença de Maeve suscitou o crescimento de seu personagem”, revelou.
Para Renata, existia uma preocupação em mostrar aquele espaço geográfico onde estes personagens atuam sem caricaturas nem clichês. “Me emociona o fato de elas lutarem por respeito, e é interessante que manifestações brasileiras deste universo se coloquem apesar de estarem fora da grande mídia”, disse.
Sobre a comunicação entre si nas produções pernambucanas, Ismail apontou que “o conjunto de filmes que compõem um quadro a definir um certo ponto de vista sobe o Brasil urbano atual com mais coerência, dialogando internamento, é o cinema de Pernambuco”.
A propósito do recorrente tema urbanístico nas produções do Estado, o mediador Paulo Henrique Silva lembrou que em seu segundo longa, “Prometo Um Dia Deixar essa Cidade”, o diretor Daniel Aragão declarara em setembro último que lá não teria “imagem alguma dos edifícios altos do Recife. Já faço um favor a todos os jornalistas de cinema do Brasil que não vão precisar mais tocar no assunto -cidade vertical-“.
Contra o comentário, Oliveira brincou dizendo: “Acho que Daniel vai ter problema para evitar o urbanismo recifense. Se não quiser mostrar, vai ter que fazer muito plano fechadinho”.
“Amor, Plástico e Barulho” deve estrear nos cinemas apenas no segundo semestre de 2014.
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