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Festivais

17o Tiradentes (2014) – noite 4

Curtas pernambucanos se impõem em MG

Por Luiz Joaquim | 29.01.2014 (quarta-feira)

TIRADENTES (MG) – Pernambuco marcou boa presença segunda-feira na 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes com dois curtas-metragens tão distintos em discurso, método e forma quanto curiosos. O primeiro, “Sob a Pele”, de Pedro Sotero e Daniel Bandeira, exibiu dentro do programa “Panorama”, enquanto “Estudo em Vermelho”, de Chico Lacerda, integrou a competitiva “Foco”.

Sotero (fotógrafo de “O Som ao Redor”) e Bandeira (de “Amigos de Risco”) construíram seu fantástico “Sob a Pele” seguindo uma narrativa clássica para nos colocar num particular universo de troca entre um homem e uma mulher no qual descrições em palavras não dão conta de sua poética.

Palavras, a propósito, quase não importam (os diálogos são mínimos) na história desse casal que pratica o sexo como uma urgência pela madrugada. Não só pela coreografia harmoniosa dos corpos dos atores Rita Carelli e Mariano Mattos Martins, mas também pela coreografia da câmera de Pedroso, o sexo aqui é representado com seu tesão necessário para entendermos o recado final do filme. Aquele que a palavra na dá conta em traduzir o que resulta do envolvimento íntimo entre os corpos de duas pessoas.

Com o corpo todo tatuado, a partir de pintura feita por Cavani Rosas, Rita ocupa a tela com uma sedução e elegância que a eleva ainda mais um degrau em sua capacidade de convencer e envolver o espectador pela suavidade. Juntando-se à trilha sonora firme e forte de Carlos Montenegro e Cláudio Nascimento com a direção de arte de Thales Junqueira, resultamos no “Sob a Pele” como mais um trabalho pernambucano no qual o fantástico ajuda a perceber sutilezas da vida real.

Já “Estudo em Vermelho” se arrisca por um caminho mais livre e experimental não só em sua narrativa, mas também no discurso e estética. Um produto próprio dos interesses desta Mostra de cinema, que quer entender como serão estes processos formativos em um filme contemporâneo.

Como adianta o título de seu filme, Chico abre o curta com um corpo estendido num banheiro enquanto o sangue corre por trás da cabeça da vítima. A atmosfera e o efeito rapidamente provocados pela cena, entretanto, são logo desconstruídos com a informação de que a tomada ficou boa e o ator pode levantar-se.

Após a circulação da câmera livre pela casa, deixando claro que estamos num set armado, reforça-se a ideia de que o que está por vir serão reflexões, também livres, de conexões entre os vermelhos. Contrapondo com regras de etiquetas lidas formalmente de um livro, após o vermelho sangue, temos tanto um Renato Aragão imitando Maria Bethânia, quanto o próprio Chico Lacerda passando-se por Kate Bush no vídeoclipe para “Wuthering Heighs”. Não é para procurar explicações, mas para envolver-se, ou não.

Revelando a força de um tigre

No mesmo escopo de competição do programa Foco, está o programa Aurora (este para longas-metragens) da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Na noite de segunda-feira a Aurora viu a exibição do mineiro “A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchoa, o primeiro dos sete títulos que concorrem aqui neste ano.

Conhecido pelo belo e contemplativo “Mulher à Tarde” – exibido na 13º edição da mostra (em 2010) – Uchôa apresentou um trabalho quase que irreconhecível com o anterior pelo ponto de vista das intenções estéticas. Algumas marcas estão no novo “A Vizinhança do Tigre”, mas quase que “na casca”, como ele próprio disse em coletiva na manhã de ontem.

Realizado entre 2009 e 2013 onde vive – no bairro Nacional, periferia de Contagem (MG) -, “A Vizinhança…” acompanha o cotidiano dividido entre a diversão, o trabalho e o crime dos jovens Juninho, Menor, Neguinho e Adilson e Eldo.

Com imagens muito bem acomodadas e integradas ao universo dos garotos, Uchôa constrói uma narrativa conduzida pela – como pontuou o cineasta – trágica situação de Juninho que precisa pagar uma dívida por um revolver que emprestou para um assalto, mas acabou indo preso pelo atentado.

Tal enredo apenas ajuda como um argumento dramático, entre tantos aqui, para envolvermo-nos com este filme que, assim como os títulos de Gabriel Mascaro, agrega seus personagens representando sua própria vida, incluindo suas fragilidades e anseios por um futuro melhor.

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