17o Tiradentes (2014) – noites 1 e 2
Filme de horror abre Tiradentes
Por Luiz Joaquim | 27.01.2014 (segunda-feira)
TIRADENTES (MG) – Uma combinação interessante para todos os lados fez da abertura da 17a Mostra de Cinema de Tiradentes algo harmonioso uma vez que o homenageado desta edição – o ator paulista Marat Descartes – encabeçava o elenco do filme “Quando Eu Era Vivo”, de Marco Dutra, cuja primeira exibição pública aconteceu sexta-feira aqui na história cidade mineira.
Egresso da faculdade de cinema da Universidade de São Paulo, o jovem Dutra (33 anos) desponta como um dos consistentes talentos de sua geração, ao lado dos colegas do coletivo “Filmes do Caixote”. Com seu grupo, já gerou dois outros longas-metragens inegavelmente potentes: “Trabalhar Cansa” (2011) – co-dirigido com Juliana Rojas – e “O Que se Move” (2012), de Caetano Gotardo.
Sempre pairando pelo difícil e raro equilíbrio em compor situações de suspense ou terror (principalmente no atual cinema brasileiro), Dutra agora nos oferece uma história familiar na qual Júnior (Descartes) volta a morar com o pai (Antônio Fagundes) após separar-se da esposa. Lá, ele não reconhece mais o lar que abrigou sua infância e se aproxima da estudante de música (Sandy Leah), inquilina que ocupa o seu antigo quarto.
Adaptado por Dutra e Gabriela Amaral Almeida do livro “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”, de Lourenço Mutarelli, a versão para o cinema já chama a atenção pela junção de atores de formação tão distintas como Fagundes, a cantora Sandy (agora Leah) e Descartes num mesmo set para um filme de horror.
Em entrevista na manhã de sábado, o produtor Rodrigo Teixeira contou que a entrada de Fagundes no projeto se deu por intermédio da esposa de Mutarelli, que trabalha numa livraria. “Fagundes é um leitor voraz, lê três livros por semana. Ela nos ligou dizendo que o Fagundes adoraria fazer este filme”.
Dutra completou dizendo que, feito o contato com o ator, a empatia foi imediata. “Ele é um apaixonado por Stephen King e trocamos muitas ideias”. Já Descarte, cuja interpretação foi declaradamente inspirada na de Jack Nicholson em “O Iluminado”, registrou que a única vez que “pagou um mico” de pedir autógrafo foi para Fagundes, quando era ainda um estudante.
“A opção pela Sandy se deu a partir da premissa que queríamos uma cantora-atriz, com uma voz expressiva. Não tínhamos a menor ideia se ela aceitaria. Enviamos o roteiro e dois dias depois ela já estava ganha”. lembrou o diretor.
ESTREIA – “Quando Eu Era Vivo” é o terceiro trabalho conjunto entre Marco Dutra e Marat Descartes. O filme será distribuído pela Vitrine Filmes e tem estreia nacional nesta sexta-feira (31). No Recife exibirá no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.
O inferno, por seus funcionários
A noite de sábado na 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes fechou com uma efusiva e lotada sessão no Cine Tenda (700 lugares) para ver o primeiro longa-metragem dos baianos Cláudio Marques e Marília Hughes, “Depois da Chuva”, premiado no Festival de Brasília em 2013.
Antes, o primeiro longa de um outro baiano – este radicado em Curitiba – também fez jus a qualidade da seleção da Mostra. Foi o forte “A Gente”, de Aly Muritiba, que fecha sua “trilogia do cárcere” iniciada com o curta de ficção “A Fábrica” (2011) e o doc, também curta, “Pátio” (2013), este selecionado para a mostra Semana da Crítica, em Cannes do ano passado.
Em “A Gente”, Aly – que trabalhou por sete anos numa prisão – agora aponta para o trabalho de uma pequena equipe de agentes carcerários esforçando-se para fazer um trabalho correto numa penitenciária em Curitiba que abriga cerca de 930 detentos.
A principal figura na qual a câmera de “A Gente” cola é a do inspetor Jeferson Walkiu que, quando está fora do caldeirão prestes a explodir que é o presídio, atua numa igreja evangélica, catequizando e batizando pessoas.
O contraste entre os dois universo é perturbador, e a câmera de Muritiba, de tão próxima e íntima de Jeferson, nos suscita a real dimensão do estresse naquele ambiente, nos dando constantemente a tensa sensação de que qualquer passo em falso pode transformar-se em algo brutal e catastrófico. Bom.
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