Ninfomaníaca – volume 1
Sexo é mau (ou não?)
Por Luiz Joaquim | 10.01.2014 (sexta-feira)
O sexo. Esta criança que insiste em lembrar a todos sobre os seus instintos. Com a estreia hoje de “Ninfomaníaca: volume 1” (Nymphomaniac, Din., Ale., Fra. Bel., 2013) o dinamarquês Lars Von Trier procura apimentar o assunto usando como ingredientes atores famosos em cenas de sexo explícito e um enredo que não quer exatamente estimular a libido, mas questionar a posição do ser-humano diante desse diabo chamado -sexo-.
É, talvez, aí que reside a limitação deste novo trabalho do aclamado diretor de “Melancolia”. Nas diversas conversas entre a ninfomaníaca Joe (adulta Charlotte Gainsbourg; jovem Stacy Martin) e o bom senhor Seligman (Stellan Skarsgard), que a resgata da sarjeta, temos uma quase enfadonha terapia informal sobre a culpa ou inocência da mulher viciada em sexo.
Erudito que é, Lar Von Trier não resume a resposta para esta questão com a já conhecida e óbvia ação de algumas pessoas que reagem a traumas praticando sexo. Não. Mas o cineasta aqui parece estender tal questão apenas para brincar com as possibilidades de analogias com o busca pelo coito que ele conseguiu listar para o roteiro desta sua nova provocação.
“Ninfomaníaca: volume 1” até parece um filme preguiçoso, para quem já elaborou títulos tão sofisticados sobre a conduta humana (“Ondas do Destino”) ou sobre a própria natureza humana (“Melancolia”). Isto porque nos cinco capítulos que formam esta primeira parte – O pescador completo; Jerôme; Mrs. H; Delírio; A pequena escola harmônica – sua estrutura segue um esquematísmo quase matemático, logo cansativo.
Para cada capítulo, Von Trier faz relações entre as histórias contadas por Joe sobre seu passado – sob tom de autopunição – com a percepção generosa feitas por Seligman sobre o mesmo assunto. No caso, compara-se os atos da ninfomaníaca à pescaria, ao vício, à composição musical, etc. E a inserção de imagens de arquivo ilustrando cada tema também não ajuda na credibilidade aqui.
Apesar da atmosfera pesada, pela qual o excesso de sexo é apresentando como doentio, Von Trier encontra espaço para o humor. Quem conhece a obra do dinamarquês, entretanto, sabe que provavelmente ficará na dúvida se é mesmo para rir alto no cinema. Recheado de sarcasmo e ironia, ele deixa seu “Ninfomaníaca” mais amargo que doce na hora da graça.
Com tantas relações entre sexo, culpa, condescendência e piadas malvadas, este primeiro volume de “Ninfomaníaca” parece não levar a lugar nenhum. Ou melhor, leva sim. Mas a diversos lugares e lhe deixa lá, perdido (num mau sentido). De qualquer forma, avaliar um filme, ou melhor, meio-filme, tem dessas coisas que podemos chamar de imprecisão.
Um das dúvidas vem com a frase: “O mais importante ingrediente do sexo é o amor”. É a única fala dita duas vezes neste volume 1. O cineasta realmente acredita nisso, ou quer apenas nos fazer acreditar insistindo assim? Não interessa, até porque aqui, a cada vez que é dita, a assertiva soa com sentido oposto. Interessaria sim, mas apenas se Von Trier nos desse alguma ideia de onde ele quer chegar. Quem sabe em março?
ELENCO – Neste “volume 1” do filme, além de Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard e a bela e desinibida Stacy Martin, vemos Shia LaBeouf, Christian Slater e Uma Thurman também em situações, digamos, sensíveis. Para o volume dois, devem aparecer Willem Dafoe, Jamie Bell, Jean-Marc Barr e Udo Kier.
BERLIM – Um versão sem cortes do filme foi confirmada para exibir no Festival de Berlim, que acontece entre 6 e 26 de fevereiro. Há um versão do filme completo com 5h30min. de duração. Em março estreia no Brasil o “volume 2” da obra.
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