O filho pródigo à casa volta
Simão em curta autobiográfico
Por Luiz Joaquim | 13.01.2014 (segunda-feira)
Desde que foi apresentado ao Brasil em 1998 pelo curta-metragem “Simião Martiniano: O Camelô de Cinema”, de Clara Angélica e Hilton Lacerda, o alagoano radicado em Pernambuco – que dá título ao curta – tornou-se não apenas uma referência do cinema de margem, naif, que é feito no País, como também viu suas obras virarem objeto de pesquisa em universidades, além de ter-se tornado uma personalidade única e muito querida no cenário do cinema local.
Aos 76 anos e autor de seis longas-metragens, Simião hoje volta à cena protagonizando a história de sua própria vida no curta-metragem “A Volta do Filho da Terra”, dirigido pelo José Manoel – ator integrante da trupe de interpretação parceira de Simião desde 1988. “A Volta do Filho da Terra” é exibido hoje, às 19h, no Cinema da Fundaçao, com entrada franca.
Manoel soube que Simião tinha a ideia de voltar à terra onde nasceu – Ximênes, região a 20 quilômetros do município de União dos Palmares (AL) – e decidiu acompanha-lo na difícil viagem que o cineasta faria pela primeira vez, 65 anos após ter deixado o lugar. A ideia era dramatizar o reencontro de Simião com seus familiares, tendo o próprio artista no filme como protagonista de sua história.
“Foram três dias de viagem. Fizemos em outubro, gravando imagens na rodoviaria de Maceió, no Cabo de Santo Agostinho, em Ximenes e também no Engenho São Manuel, da Usina Liberdade, em Alagoas”, conta o diretor. Simião, que queria saber sobre sua família, tentara noutra ocasião chegar a Ximenes mas “o acesso era muito difícil e nunca conseguia voltar lá”.
A emoção de ir à terra natal está no filme, mas Simião segreda que, apesar de ver tudo diferente na região, gostou de reencontrar a prima Elenice – que também aparece no filme.”Muito gente mudou-se de lá, mas ainda encontrei Zulmira, que quando jovem, enquanto colhia algodão, cantava uma música que me marcou quando eu tinha dez anos. Ela ficou surpresa quando hoje cantei a mesma música para ela”, recordou Simião.
No enredo de sua vida, sabemos que o garoto Simião saiu de casa na infância após levar uma surra do pai. Passou a dormir na rua até chegar a um engenho onde foi adotado por um capitão (interpretado por Gilvan Alves) e por lá ficou trabalhando até os 18 anos, de onde saiu para vir ao Recife.
Feito inteiramente com recursos próprios “A Volta do Filho da Terra” custou aos bolsos da produção cerca de R$ 8 mil.
NOVO PROJETO
Incansável no desejo de produzir filmes, Simião guarda na manga um novo enredo cujo título é “O Tiro Acidental”. “O enredo é baseado numa história real, vivida pelo meus primos quando crianças”, adianta. “Quero filmar em Jaboatão [dos Guararapes], dentro da mata e na cidade. Fala de três primos que saíram para caçar e por conta de um tiro acidental acontece uma morte”.
Simião promete muito ação e tiroteio na trama que criou para o novo trabalho, que seria uma média-metragem, com cerca de 40 minutos. “Há três meses mostrei o projeto na secretaria de cultura de Jaboatão em busca de algum apoio, mas até agora não tive nenhum retorno”, lamenta-se o camelô de cinema.
FILMOGRAFIA – Entre os filmes de Simião Martiniano estão, “Traição no Sertão” (originalmente filmado em super-8, em 1979); “O Herói Trancado” (1988); “A Rede Maldita” (1991); “O Vagabundo Faixa Preta” (1992); “A Mulher e o Mandacaru” (1994); “A Moça e o Rapaz Valente” (1999); “A Valize Foi Trocada” (2006, nome original com “z”); “O Show Variado” (2010); todos disponível para venda pelo cineasta.
SERVIÇO
Lançamento do curta “A Volta do Filho Pródigo”
de José Manoel, com Simião Martiniano.
Hoje, às 19h.
No Cinema da Fundação
Rua Henrique Dias, 609, Derby
Entrada franca
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