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Críticas

Quando Eu Era Vivo

Um bem vindo horror brasileiro

Por Luiz Joaquim | 31.01.2014 (sexta-feira)

Quase que solitário, num árido cenário para o suspense/horror dentro do circuito de lançamentos nacionais, estréia hoje no País “Quando eu Era Vivo” (Bra., 2014), do paulista Marco Dutra. Tendo realizado uma primeira exibição pública sexta-feira passada abrindo a 17a Mostra de Cinema de Tiradentes – que encerra amanha – este primeiro vôo solo de Dutra em um longa-metragem chega ao Recife pelo Cinema da Fundação.

Originado no universo bem particular do escritor Lourenço Mutarelli – que surge em breve aparição no filme como um motorista -, o longa é uma adaptação feita a quatro mãos por Dutra e Gabriela Amaral Almeida do romance “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”.

Como se não bastasse como uma nova oportunidade de exercitar-se num campo – o do suspense sobrenatural – que vem trilhando desde os tempos da faculdade ao lado da colega Juliana Rojas (com quem dirigiu “Trabalhar Cansa”), Dutra ainda acrescentou um molho bem condimentado ao colocar os atores Antônio Fagundes e Sandy (agora assinando também como “Leah”) num mesmo set.

Tanto um quanto o outro transita muito bem na principal locação da produção. Este terreno é o apartamento da família, que a cada novo instante oprime o pai (Fagundes), com a volta e presença gradativamente intimidante do filho Júnior (Marat Descartes).

Nesse momento em que eles voltam a viver sob o mesmo teto, há também a presença de uma inquilina (Sandy) ocupando o antigo quarto de Júnior e
obrigando-o a alojar-se no quartinho de tralhas da casa. Ali, em contato com os objetos do passado, lembranças retornam a Júnior e entre elas temos acesso por velhas imagens fitas de VHS aos misteriosos rituais da mãe já falecida. Rituais os quais o pai gostaria de esquecer.

Numa espécie de transe crescente, Júnior passa a reviver os planos e objetivos da mãe para por fim num processo que reuniria novamente a família, incluindo o irmão internado num manicômio.

Com um leque largo de composições para montar a atmosfera particular daquele apartamento assombrado – um espaço, à propósito, bem explorado pelo cinema nos últimos 50 anos – a principal ferramenta é mesmo o processo de transmutação pelo qual Júnior passa, como se reencarnasse a própria mãe.

Usando uma peruca, que não chega a distrair em função do clima fantástico que o filme propõe, Descartes declarou em Tiradentes que se inspirou no personagem de Jack Nicholson em “O Iluminado”, de Kubrick. Com a diferença que, ali, Nicholson já chega louco no hotel.

Sobre a presença de Fagundes, pode-se dizer que é o ator mais à vontade em cena, o que ressalta o valor de sua experiência no cinema – um canal no qual, ele registrou, gostaria de estar mais presente e rejuvenescer sua habilidade de interpretações.

Com participação discreta mais determinante e precisa, Sandy Leah também surge aqui como aquilo que se espera de sua persona. Uma garota doce, de voz suave, que serve de contraponto à loucura de Júnior, ao mesmo tempo em que deixa-se atrair por esse transe.

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