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Reportagens

Um luz sobre o oriente médio

Cineasta e jornalista trabalham em produção internacional

Por Luiz Joaquim | 22.01.2014 (quarta-feira)

Na manhã de ontem (21/01), uma explosão deixou no mínimo dois mortos e mais de 20 feridos em Beirute, capital do Líbano. Grupos islâmicos fazem ameaças constantes ao Hezbollah (movimento paramilitar xiita libanês), aliado ao ditador Bashar as-Assad, da vizinha Síria. Mas… o que isso tem a ver com o cinema pernambucano?

Terá, uma vez que o cineasta paranaense Zé Cahue, residindo no Recife, deu partida à pesquisa de seu primeiro longa-metragem de ficção – “Olhar” (nome provisório). Nele, um judeu pernambucano viaja a Israel, à procura das origens e, em meio a conflitos em novo território palestino vinculado à Israel, acaba envolvido pela violência, descobrindo que tem descendência árabe.

A ideia germinou há alguns anos, quando Cahue trabalhava no exterior, tendo circulado pelo Himalaia, Paquistão, Índia, Irã, Turquia, Bulgária e Romênia. Tendo também vivido na Bolívia, Áustria, França e Espanha, o realizador ainda estudou fotografia em Viena e depois cursou cinema na New York University. Lá, fotografou o filme do turco Abul Kerin e desenvolveu um simpatia pela cultura muçulmana, além de ter aprendido um pouco mais sobre a cultura islâmica.

Aos, 32 anos, com descendência entre poloneses e a África negra, Cahue casou-se com uma pernambucana e fincou residência no Estado desde 2011. Aqui encontrou no jornalista André Dib, 40 anos, mais que um parceiro para a produção e pesquisa que levanta na região para seu “Olhar”, ou “Yayuni” (algo como “luz dos meus olhos”, em árabe).

Vindo também do Paraná, Dib chegou ao Recife em 1997. Foi aí que o jornalista, filho de pai libanês e mãe síria, começou a prestar mais atenção à história da família. “Meu pai faleceu naquela época e meu interesse pela sua cultura aumentou. Quis aprender árabe e revivi todos os elementos que me formaram em casa, como a música, a comida, sua cultura de uma maneira geral”, recorda. E continua: “Nós, descentes, temos uma vontade romântica de conhecer as origens e, de certo modo, envolvendo-me nesse projeto, faço o caminho inverso que meu pai fez há mais de 50 anos”, reflete.

Numa primeira mapeada para ajudar a construir o perfil do protagonista, a pesquisa feita pelo dois os levou a fontes que desdobram informações a respeito de descendentes árabes residindo em Pernambuco. Publicações do jornalista João Asfora (1927-2013) – diretor da primeira Folha de Pernambuco (entre 1987 a 1991) – como o seu livro “Palestina Livre”, estão entre as fontes, assim como os restaurantes árabes e o Clube Líbano.

Hoje, Cahue trabalha no roteiro do longa-metragem ao mesmo tempo em que agrega artistas e técnicos para rodar o filme em 2015. “Vamos submeter o roteiro ao edital do Funcultura [Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura] mas, por se tratar de um projeto ambicioso, com uma cena de invasão ao território Sírio, deveremos ir a Jordânia tentar conseguir apoio de árabes e israelenses”, conta Cahue.

Um dos nomes confirmados é o do ator Irandhir Santos no protagonismo. “Aqui há um processo interessante, no qual o próprio Irandhir ajuda a compor seu personagem. Ele ficou muito interessado uma vez que ele mesmo suspeita que o irmão de seu avô é árabe”, revela. Outro nome forte incluído na equipe é o de Johann Brehmer, do estúdio Mombitaba, na trilha sonora. Brehmer foi premiado no Festival de Brasília de 2013 pela música do documentário “O Mestre e O Divino”, de Thiago Campos.

“Acho que o legal deste projeto, apesar de estar em fase bem inicial, é este processo de desenvolvimento coletivo, que traz para a fase de roteirização alguns elementos que, normalmente, seriam trabalhados só a partir da pré-produção, como trilha e a relação ator/personagem”, conclui o cineasta, que negocia ainda a adesão do mais respeitados roteirista de cinema pernambucano.

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